segunda-feira, 9 de julho de 2012

Manifesto contra a banalização e o desrespeito à Religião de Matriz Africana e Afro-Umbandista em Pelotas.


MANIFESTO CONTRA A BANALIZAÇÃO E O DESRESPEITO À RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-UMBANDISTA EM PELOTAS


Neste mês de julho de 2012, comemoram-se os 200 anos da cidade de Pelotas, cidade esta, que foi alicerçada pelo trabalho essencial da população negra. Como exemplos dessa contribuição ressaltam-se: a construção do Teatro Sete de Abril, os grandes Casarões do entorno da Praça Coronel Pedro Osório, o Mercado Público etc.

Salienta-se que no Mercado Público do município ocorria a comercialização de africanos escravizados durante o sistema escravagista em Pelotas. É nesse contexto que foi realizada a Cerimônia Afro no Mercado Público, em respeito à memória dos afrodescendentes que foram vendidos nesse espaço público. E, por consequência do trabalho forçado a que eram submetidos, muitos destes morreram.

Nesse sentido, a Cerimônia Afro realizada no Mercado Público, mediante ritual aos Ancestrais, Inquices, Orixás e Voduns, ocorreu de acordo com os preceitos da tradição cultural e religiosa, de origem africana. Conforme a tradição, o Axé e/ou Ngunzo são potencializados com propósitos de fazer com que as coisas se dinamizem e produzam prosperidade para todos (as) comparado à força física que edificou a economia fundante da hoje Pelotas, a desenvolvendo.

O orixá Bará e/ou Oba- Ara (Oba=rei, ara= corpo) traduz-se filosófica e teologicamente como "Aquele que sustenta a Vida", tanto individual quanto coletiva sem o qual a existência, toda ela, estaria imobilizada, estática, parada. O assentamento do Bará no Mercado central tem essa prerrogativa.

Assim, durante esse mês de julho, passados 200 anos da Cidade de Pelotas, a comunidade negra, particularmente os adeptos das religiões de Matriz Africana ficam chocados ao se depararem com uma matéria "jornalística" estapafúrdia.

A mesma vem causando danos no universo social pelotense, reproduzindo preconceitos, incitando a afro-teofobia e estigmas em relação aos adeptos das religiões de Matriz Africana bem como aos negros por serem práticas religiosas e valores do mundo africano e afro-brasileiro. A referida matéria foi publicada no jornal Diário da Manhã, impresso do dia 28/06/2012 da cidade de Pelotas e, também divulgado através do Facebook do Sr. Hélio Freitag Jr. http://www.facebook.com/profile.php?id=100002284798350, noticiando a ritualística de assentamento do Orixá Bará no Mercado Central de Pelotas.

É por esse motivo, que a Casa Assistencial Afro-Brasileira Caboclo Rompe Mato reino de Xangô e Oxalá- CEAAB convocou seus filiados, intelectuais das várias áreas do conhecimento (Antropólogos, Sociólogos, Psicólogos, Filósofos, Teólogos da Tradição de Matriz africana, Operadores do Direito, Engenheiros e Professores), organizações de pesquisas e estudos das ciências humanas e sociais, de direitos humanos, bem como entidades de defesa e proteção da Tradição de Matriz Africana e Afro-Umbandista de âmbito nacional, para analisar e emitir pareceres acerca das manifestações expostas no Facebook acima referido.

Dessa forma, pretende-se orientar a CEAAB nas ações na imprensa, no âmbito jurídico, caso seja necessário, e junto à sociedade pelotense como um todo, diante da repercussão dos fatos e dos danos que a vinculação da matéria "jornalística" vem causando.

Prontamente, os (as) presentes chamam a atenção para a improbidade da divulgação feita no Diário da Manhã, bem como a sua repercussão negativa nas redes sociais (Facebook e Blogs),especialmente no Blog Amigos de Pelotas que qualificou como "chinelagem da grossa no Mercado" um ritual religioso a que todos refutaram como irresponsável e inconsequente.

O referido texto de baixo teor, traduz analfabetismo filosófico e teológico de quem informou, escreveu, interpretou e publicou a informação, utilizando-se de imagem que sem autorização dos envolvidos (as) fora divulgada ilustrativamente, ferindo assim o direito de imagem.

Deve-se ter em mente que os africanos (as) sequestrados (as) para a diáspora forçada, da qual se explorou a mão de obra escravizada na economia
charqueadora pelotense, sustentou grande parte do desenvolvimento econômico do País, da América e da Europa. Cabe salientar que no modelo econômico do sistema escravagista, a importância do trabalhador escravizado corresponde hoje ao valor do petróleo para a economia mundial.

Neste contexto histórico, a cidade assentava-se numa visível contradição: de um lado o requinte, a riqueza e a opulência; de outro, a faca, a degola e a chibata, símbolos discriminatórios que se perpetuam ainda hoje no imaginário pelotense e se materializam, quando ocorrências de cunho civilizatório realizam-se a exemplo do ritual intitulado "Assentamento do Bará do Mercado Central".

Detentores de uma visão de mundo não dualista, na qual inexiste a divisão entre sagrado e profano, os (as) africanos (as) tornavam sagradas todas as dimensões da vida, incluindo os espaços públicos, em que se insere o mercado como local de troca material e religiosa indistintamente. Essa cosmovisão está alimentada pelos seus descendentes e vivenciadores (as) em geral das tradições de matriz africana.

Assim, cabe salientar que a Constituição Federal do Brasil de 1988, art.5º, inciso VI, garante o livre exercício dos cultos religiosos, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Sendo assim, a Cerimônia Afro realizada insere-se dentro das garantias constitucionais que abrangem todos (as) brasileiros (as), não cabendo questionamentos a cerca do mesmo.

Portanto, o desrespeito, a banalização, o racismo, a intolerância religiosa e a incitação ao ódio racial que vieram à tona, sobretudo, através da publicação, endossam a necessidade de qualificarmos o debate público a respeito da liberdade religiosa e da laicidade do Estado, bem como a função pública da religião.

CASA ESPÍRITA ASSISTENCIAL AFRO-BRASILEIRA CABLOCO ROMPE MATO REINO DE XANGÔ E OXALÁ (CEAAB)

SOCIEDADE AFRO-BRASILEIRA ILE AIYÉ ORIXÁ YEMANJÁ

COMUNIDADE-TERREIRA ILÉ DE IYEMANJÁ OMI OLODO

EGBE ÒRUN ÀIYÉ - Associação Afro-Brasileira de Estudos Teológico e Filosófico das Culturas Negras

ATRAI - Associação Nacional de Teólogos e Teólogas da Religião de Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indígena;

ESTAF - Associação de Filosofia e Teologia Afro-centrada

REDE NACIONAL DE RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRA E SAÚDE / RENAFRORS

GRUPO DE TRABALHO DE MULHERES DE AXÉ/ NÚCLEO RS

AFRICANAMENTE - CENTRO DE PESQUISAS E PRESERVAÇÃO DAS TRADIÇÕES AFRODESCENDENTES

JAYRO PEREIRA DE JESUS (Teólogo da Tradição de Matriz Africana) - MEMBRO DO COMITÊ NACIONAL DA DIVERSIDADE RELIGIOSA DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

SANDRALI DE CAMPOS BUENO (Iyalorixá Sandrali de Oxum) - CONSELHEIRA REPRESENTANTE DO POVO DE TERREIRO NO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO RIO GRANDE DO SUL


NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO-AMERICANOS / ICH- UFPEL


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