quinta-feira, 30 de agosto de 2018

DIFERENÇAS ENTRE OS MINKISI (plural de Nkisi) DAS CULTURAS E TRADIÇÕES BANTO E OS ORIXÁS DA CULTURA E TRADIÇÃO NAGÔ YORUBÁ.

Tata Kiretauã
Publicado no site Webnode
2010

Mostrarei as diferenças que existem entre Nkisi e Orisá, além das diferenças comuns, normais como tradições, culturas, costumes, cultos e fundamentos religiosos, línguas e as diferenças geográficas que existem entre as regiões (países) dos povos Banto e Nagô/Yorubá no grande continente Africano.
Além dessas citadas acima, existem também as diferenças diretas entre as Divindades Nkisi e Orixás, que falarei à seguir. Primeiro falarei sobre os Minkisi (Mahamba - Divindades) da cultura e tradição religiosa dos povos banto, pois será a base do tema.

OS POVOS BANTOS
Os povos bantos de uma maneira geral, cultuam suas Divindades (Mahamba) de uma forma mais simples e natural, que se difere de outros povos, pois as Divindades adoradas, louvadas e cultuadas pelos banto são os próprios elementos da natureza, ou seja, a própria Divina Natureza.
As Divindades em seu estado natural, na própria natureza (estado bruto) são chamadas de Hamba (plural Mahamba) até serem, através de rezas (Jingorosi) e fundamentos (Kitungu) trazidas para o nosso meio, para serem iniciadas na cabeça (mutuê) do filho (mona) e no assentamento (kuxikama//kunda), onde a mesma será cultuada e seu filho nascerá novamente para ela, fazendo-se uma concentração e ligação direta de energias entre o filho e o assentamento de sua Hamba (Nkisi ou Inkisi).
No processo de iniciação, essa Hamba passará a ser conhecida e cultuada como Nkisi, pois não está mais em seu estado bruto, natural... já está ligada ao seu filho iniciado para ela (muzenza) e no assentamento onde estará ligada através de todo o processo de fundamento (Kitungu) e obrigação (Mbebe) que foi destinado e elaborado naquele recipiente (assentamento = Kunda), também na cabeça (mutuê) e no corpo (mukutu) do filho (mona ou muana) .
As Divindades Banto não tiveram passagem pela Terra e nem tão pouco forma humana, são a própria natureza com seus elementos como a chuva, o barro, a terra, as folhas, as pedras, a pedra de ferro, a pedra de raio, as raízes das plantas, as plantas, o vento, o fogo, o raio, o ar, as fontes naturais de água, as nascentes de água, as mudanças naturais de temperatura e de clima, a água, o mar, a larva vulcânica, e etc. (o grifo é do transcritor)
As línguas faladas pelos povos banto são muitas, mas no Brasil as que mais tiveram destaque nas Jinzo (casas) religiosas de tradição Kongo Ngola e Ngola são o Kikongo, originária dos povos Bakongo da região do Kongo (Congo) e o Kimbundu, originária dos povos da região de Ngola (Angola), principalmente acima do Rio Kuanza (Cuanza), ao redor de Luanda.
Falarei também das outras línguas e seus respectivos domínios territoriais, como por exemplo: 
Ajaua (Moçambique, Malauí e Zimbábue), 
Bemba (Zâmbia), 
Kuanhama (Sudoeste Africano-Angola, Namíbia), 
Ganguela (Fronteira leste de Angola, oeste de Zâmbia), 
Iaka (Zaire-Kuango, Casai), 
Língala (Congo, antigo Zaire e outras áreas da África central), 
Makua (Moçambique, entre o Rovuma e a Lurio), 
Nhungue (Moçambique), 
Nianja (Moçambique, Malauí, Zimbábue), 
Kioko e Luvate (Chokwe, Leste de Angola), 
Suaíle (Tanzânia, Zanzibar, Moçambique), 
Sutho (África do Sul), 
Tonga (Moçambique, Zimbábue), 
Umbundu (abaixo do rio Kuanza, principalmente na região de Benguela),
Shona (Moçambique, Zimbábue e Botsuana),
Zulu (África do Sul, Botsuana) 
e outras....

AS NAÇÕES CONGO E ANGOLA NO BRASIL

As nações Congo Angola e Angola no Brasil, em termos religiosos, ficaram por muito tempo com a influência do culto Nagô/Yorubá, falo principalmente das casas que não são matrizes ou que não derivam das mesmas. 
Chamamos essas casas que não se ramificam das casas matrizes tradicionais, de "candomblé de beco" sem tradição e sem casa matriz para seguir, praticando em sua grande maioria, um culto alicerçado em muitas misturas, falando línguas diferentes e cultuando Divindades de povos diferentes, uma tremenda "misturéba", gerando dessa forma, um culto superficial, sem identidade, trazendo dúvidas e questionamentos para seus filhos e adeptos.
O berço da religião dos povos bantos no Brasil é a cidade de Salvador-BA, pois foi lá que nasceram, foram fundadas as primeiras três jinzo-(casas) matrizes, de tradição Banto, porém de raízes diferentes!
Falarei apenas da casa ou raiz da qual faço parte, ou seja, a Mansu Bandukenke-Bate Folha, localizada no bairro da mata escura em Salvador, fundada em 1916, pelo sr. Manoel Bernardino da Paixão, Tata Ampumandezu.
Em 04/12/1929, Tata Ampumandezu inicia seu Rianga (primeiro filho), Sr. João Correia de Mello (Lesenge). Em janeiro de 1938, já como Tata, Lesenge migra para o Rio de Janeiro e lá no ano de 1941, funda a grande inzo Kupapa Unsaba. Após seu falecimento no ano de 1970, a grande Ndenji (raiz) Kupapa Unsaba, recebe como matriarca no ano de 1972, Mam'etu Mabeji, que graças a Nzambi, continua firme no comando da grande Ndanji (raiz)!
A Mbutu (nação) Congo Angola ou Angola de origem Banto, têm suas próprias tradições, costumes e culturas. Entre elas, comidas (makuria), instrumentos de culto, língua (dimi), roupagens e vestimentas próprias, tanto para os filhos como para as Divindades.
O adjá, instrumento de chamada através de seu som, pertence à cultura Nagô. O nosso instrumento de chamada através de som é o Kaxixi, chocalho cerimonial feito de coco ou cabaça com sementes e favas dentro, que produz um som menos agudo que o adjá nagô. (o grifo é do transcritor)
Por isso, meus irmãos e irmãs digo que são culturas e tradições muito diferentes e não há possibilidade alguma do culto das duas nações em uma única inzo (casa).
A nação Nagô Yorubá - Ketu, cultua seus Orixás de uma forma mais “humanizada”, pois seus deuses em algum momento de suas existências, tiveram passagem na Terra em forma humana, muitas vezes vistos ou imaginados como heróis, com suas lendas e histórias.
Sua língua é o yorubá, e a maioria dos negros Nagô que chegaram ao Brasil, vinham principalmente de Benin, hoje Daomé.
Seus Orixás se vestem com roupas e paramentos de muita beleza e exuberância, com seus adês, filás, coroas, espelhos, armas e indumentárias de extrema beleza, bem diferente dos Minkisi Banto, pois suas vestimentas são confeccionadas com panos mais simples e menos chamativos, com indumentárias naturais, como favas, cabaças, ervas, chifres de animais e etc.
As armas são feitas de madeira, pois o culto aos Minkisi antecedem a descoberta do ferroe as chapas de latões e alumínios, dispensando o uso de materiais que não sejam de origem natural. Nessa questão, afirmo que, não são todas as jinzo (casas) de tradição, que fazem uso desses elementos naturais. Deixo claro que, algumas situações escritas por mim nesse texto, são praticadas apenas em África banto, e não se tornaram tradição em nosso país.
Kukula mu kiri kia Nzambi!
(Crescer na verdade de Deus!)

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