Este Blog tem como proposta de sua criação a utilização para auto-ajuda, estudos, pesquisas e reflexões da história, teologia, filosofia africana e afro-brasileira, trazidas através de crenças, mitos, cultos, lendas e religiosidade, etc... "TODO ESTUDO É BEM VINDO E CONHECIMENTO NÃO OCUPA ESPAÇO."
Batuque
Os Fundamentos religiosos, as citações históricas, as lendas e contos, enfim tudo o que é relacionado nesta página tem o intuito de divulgar e perpetuar a Religião Africanista, mais conhecida como Batuque.
Não queremos de forma alguma ter as idéias aqui escritas como sendo únicas e verdadeiras, não somos donos da verdade e nem queremos ser. Porém queremos humildemente dividir os conhecimentos adquiridos em anos dedicados à religião Africana onde convivemos com Babalorixás e Yalorixás que tinham como seu único instrumento de divulgação da Religião os seus próprios atos e relatos.
Hoje contamos com a ajuda do desenvolvimento tecnológico para manter viva a chama da cultura e da Religião, porém nunca deixamos de nos preocupar em manter nossas raízes mais profundas. Desejamos que os Orixás abençoem todos aqueles que se dispõe a conhecer e a cultuar nossa Religião perpetuando sua história através dos tempos.
A Religião Africana no Brasil
Os africanos trouxeram consigo as suas culturas originais e, junto a elas, todo um corpo de crenças e rituais religiosos. Atualmente as religiões africanas afirmam sua sobrevivência de maneira flagrante do norte até o sul do país. Tais religiões sobrevivem graças ao sincretismo entre elas próprias, entre elas e o catolicismo (religião dominante), e entre elas e o espiritismo. Esta mistura de crenças e rituais é tão evidente que já não dizemos no Brasil religiões "africanas" e sim religiões "afro-brasileiras".
O continente africano pode ser dividido em duas partes, cortando á altura do Golfo da Guiné. Dessa linha para cima, as culturas negras são chamadas sudanesas e desse paralelo para baixo, chamados de bantos.
Dos negros sudaneses, as culturas que mais pesaram no Brasil foram a nagô e a gêge, provenientes da Nigéria e do Daomé respectivamente. Coube à cultura nagô (iorubana) a hegemonia em todo o Brasil, de norte a Sul.
Já na África, essas e outras culturas influíam-se reciprocamente. Com o périplo africano realizado pelos navegadores portugueses, chegaram às costas africanas as "missões", as crenças e rituais cristãos, especialmente católicos, que deram origem ao sincretismo com os cultos negros.
Este fenômeno foi muito acentuado no Brasil, devido à promiscuidade das senzalas, onde negros de diversas culturas conviviam lado a lado, favorecendo o sincretismo entre as próprias religiões africanas trazidas para cá. Depois, por ser o catolicismo a religião oficial durante o período colonial e imperial (1500 a 1889), as manifestações exteriores das demais religiões, inclusive as práticas mais primitivas dos negros, foram comprimidas pela Igreja. Este fato veio a possibilitar aos negros a manutenção dos cultos e rituais que, por um mecanismo de defesa, avivaram cada vez mais, em extensão e profundidade, o sincretismo de suas crenças com as da Igreja, mascarando seus deuses com os nomes de santos católicos. Com tal subterfúgio respeitavam a lei, a Igreja, e continuavam cultuando seus deuses africanos.
Este processo de identificação entre os orixás (divindades) e os santos católicos foi facilitado objetivamente por semelhanças de "especialização", semelhan- ças "profissionais" entre eles. Tais como Xangô sincretizado com São Jerônimo, Iansã com Santa Bárbara, Ogum com São Jorge e assim por diante. Entre os sudaneses se cultuavam os orixás (entidades sobrenaturais, intermediários entre os homens e Olorun, o deus maior e superior a todos), já entre os bantos do Sul se veneram os espíritos ancestrais, de pessoas humanas que viveram efetivamente.
Em Benguela, Angola, sabe-se que existia o culto "orodere", semelhante ao chamado "espiritismo", por isso também foi fácil aos negros de origem banto amoldarem-se às práticas espíritas que se desenvolveram no Brasil. Dessa diferença entre os cultos sudaneses e bantos derivou uma diferença nas religiões afro-brasileiras. De um lado temos o Xangô em Pernambuco, o Candomblé na Bahia e o Batuque no Rio grande do Sul, todos eles com origem sudanesa, estas diversas designações são apenas rótulos regionais para um mesmo conteúdo.
De outro lado, por parte das culturas bantas a mercê de um grande sincretismo, nasceram todas as casas chamadas de "umbanda", criando no Brasil uma nova religião, nas quais são cultuados, além de orixás, espíritos ancestrais, os "espíritos-guias", assim denominados por influência espírita.
No Brasil as misturas se acentuaram juntou-se também, as tradições e as crenças dos nativos americanos, este sincretismo das religiões negras com elementos das culturas indígenas deu origem a um novo tipo de culto: o "candomblé de caboclo", onde são cultuados os orixás africanos juntamente com os deuses indígenas.
Nos cultos sudaneses são usados línguas africanas, principalmente o nagô e o gêge. Já nas casas de umbanda e caboclo, domina o português, misturado a palavras africanas e expressões em tupi.
A Influência Negra no Rio Grande do Sul
O negro aparece no Rio Grande do Sul em 1725, com a frota de João Magalhães, vinda por terra. Estes negros, certamente escravos, realizavam o serviço pesado. Porém oficialmente a presença negra, no território gaúcho, data de 1737, quando o Brigadeiro José da Silva Paes se estabelece na Barra erigindo o Presídio Jesus, Maria e José, marco inicial da nossa colonização. Durante muitos anos esta região, distante e hostil, denominada Continente, foi usada como ameaça contra os escravos rebeldes ou preguiçosos do centro do Brasil, sendo estes enviados para este local, considerado por eles como pior que o inferno, um autêntico degredo na solidão verde do pampa.
Assim deu-se o inicio da colonização negra no Rio Grande do Sul, estendendo para o Prata clandestinamente. O negro marcou sua presença, indelevelmente, na História, na Geografia, no folclore, no linguajar, nas artes, no esporte e na política. Na historia, há uma notável participação dos negros durante a Guerra dos Farrapos e na Guerra do Paraguai, nesta ultima lutaram substituindo o sinhozinho branco e que, após a vitória, se recusaram a voltar para o Rio Grande.
Na Geografia são muitos os topônimos de origem negra no mapa gaúcho, inclusive alguns com o nome de quilombos.
No folclore, algumas lendas falam de escravos entre nós: As Torres Malditas, Cambai, Santa Josefa e o Negrinho do Pastoreio.
No linguajar, são correntes termos como: caiambola, cacimba, mondongo, mocotó.
Nas artes são inúmeras as influências de elementos negros, como o maior tambor brasileiro atualmente, o "sopapo". Artistas negros marcaram a cultura brasileira como Lupicínio Rodrigues, e o ator Breno Mello, o inesquecível Orfeu Negro do cinema.
No esporte bastaria a simples menção ao nome do tricampeão Everaldo e, antes dele, o grande Tesourinha, entre muitos outros mais recentes.
Na política, o grande nome é do Deputado Carlos Santos, de notável atuação parlamentar durante um quarto de século.
Na culinária gaúcha brasileira, três pratos têm etiologia negra: o mocotó, a feijoada e o quibebe.
Mas é na religiosidade popular que se encontra a cultura negra mais decisivamente. Desde o século passado, nota-se a existência de cultos negros em Porto Alegre com terreiros de batuque, que se proliferaram e hoje somam mais de 50.000 casas de Batuque em todo o Estado.
Essência e Estrutura do Batuque
Originalmente os negros, de maneira geral, acreditavam em uma divindade única, superior a todos os outros seres sobrenaturais, seus subordinados. A esse deus superior, usando a expressão nagô, chamavam Olorum, divindade cultuada como senhor de todas as coisas, o princípio de tudo, o Deus criador do mundo e dos Orixás, estes seus intermediários em relação aos homens: são os orixás, que atendem cada um a funções especificadas.
Olorum - ás vezes chamado de Olodumaré, Olerum ou Lorum, não tem representação objetiva e não participa diretamente das Obrigações Religiosas, o não possui filhos na Terra, por isso não se manifesta através da ocupação, não têm culto específico, não exige oferendas específicas está acima destas necessidades. Esta características específicas de Olorum beneficia a valorização dos orixás, também chamados "santos" por influência do catolicismo.
Os afro-brasileiros vivem um processo de politeização. Se juntarmos a politeização a tendência para representar suas divindades sob formas humanas, mais a utilização de fetiches, chegaremos a um fetichismo politeísta antropomórfico como atual estágio.
Um Príncipe Negro Morou em Porto Alegre
Envolto numa auréola de nobreza autêntica viveu muitos anos em nossa Capital gaúcha uma figura estranha e original que conservou todos os seus hábitos de origem e todos os ritos extravagantes de sua seita negra...
"São João Batista de Ajudá" era uma fortaleza portuguesa no Daomé. A feitoria de São João Batista de Ajudá estava situada a 5 Km da costa Africana, de Leste ou "Papós", entre os rios da Lagoa e do Volta, tendo sido descoberta pelos portugueses, quando navegavam na costa da Guiné. Era a capital do Antigo reino do Daomé, edificado numa vasta planície outrora muito povoada de cristãos negros. O rei D. Pedro II ( de Portugal) mandou construir a referida fortaleza para proteger o importante comércio que então os portugueses faziam na Costa da Mina .
A Costa da Mina era um território à beira do Oceano Atlântico no golfo da Guiné. Foi ocupado pelos ingleses que ali estabeleceram importantes feitorias, que passaram que a ser defendidas pelas guarnições das fortalezas antes pertencentes a Portugal, entre as quais as de São João Batista de Ajudá.
Daomé faz fronteira de um lado com a Nigéria, que é o maior país da África atual, e do outro, com Togo, possessão alemã antes da I Guerra Mundial, este velho reino africano no começo foi colônia de vários países que se estabeleceram ao longo de seu território à margem do Atlântico, mas em 1876 a Grã-Bretanha terminou a ação que iniciara alguns anos antes comprando a parte dos demais ocupantes, tornando, então, a Costa do Ouro inteiramente de propriedade dos ingleses, os quais também tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que governavam o gentio. Desta determinação britânica resultou a deportação de um rei africano, que somente em 1934 teve autorização para voltar a fim de passar sossegadamente o resto de seus dias na terra natal. Com outros governantes foram feitos acordos financeiros por eles aceitos a fim de evitar o massacre do seu povo. Entre estes estava o príncipe de São João Batista de Ajudá que deixou sua terra na Costa da Mina em 1862 quando tinha 31 anos de idade.
Ninguém sabe como e em que circunstâncias este príncipe governante deixou o porto de Ajudá, que era perto da Costa do Ouro (hoje República de Gana), onde, em algumas décadas anteriores, funcionava um dos principais locais de embarque de escravos para o Brasil, mas o certo é que ele partiu ante a promessa solene dos ingleses de que seu povo não sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses.
Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guiné e com as Ilhas de São Tomé e Príncipe cedendo as suas fortalezas. As condições para que o Príncipe de Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores, além pelo respeito à vida dos seus súditos, era a de que se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios. E, como parte do convênio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse, por intermédio dos seus representantes consulares.
Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil, não se sabe. Talvez por haver aqui grande número de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina - os chamados "pretos-mina" - ou outra qualquer razão; sua chegada a nossa terra foi assinada com acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá. Inicialmente fixou-se em Rio Grande mais tarde foi para o interior de Bagé onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa do seu povo - com a prática do que agora se conhece como Batuque - além de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da nossa flora medicinal, atendendo muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.
De Bagé mudou-se para Porto Alegre onde chegou em 1901 com 70 anos de idade. Foi morar na Rua Lopo Gonçalves, nº498, cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos (hoje Joaquim Nabuco), mas logo que o príncipe que havia adotado o nome brasileiro de Custódio Joaquim de Almeida - ali se instalou, passou a rua a ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se do homem que incontestavelmente, era um líder de sua raça.
O príncipe Custódio - como então era chamado - iniciou-se ali uma nova etapa de sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno de um verdadeiro fidalgo. A família do príncipe de Ajudá aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o número de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.
Os fundos da casa onde morava - com saída à Rua dos Venezianos (Joaquim Nabuco, hoje) - servia para a sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove cavalos de raça - alguns importados da Inglaterra - os quais todos os domingos disputavam corridas. Para manter e cuidar esses animais havia um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão direta do príncipe, que se classificava como "tratador".
O príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres (atualmente ainda estão vivos um homem - Dionísio Joaquim Almeida, funcionário aposentado da EBCT - em Porto Alegre, e duas senhoras, uma residindo no Rio de Janeiro e outra em São Paulo) e para esses oito filhos, quando pequenos, mantinha quatro empregados, um para cada dois.
Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porém podia expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado.
As festas a que levava a efeito periodicamente em sua casa - notadamente na data de seu aniversário - duravam três dias com a casa sempre cheia de gente, da manhã à noite, se comia e se bebia do bom e do melhor ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. E nesses dias o príncipe recebia a visita da gente mais ilustre da cidade, inclusive do presidente do Estado, Borges de Medeiros que, conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa. Naquelas festividades era certo o comparecimento de senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, além de capitães da indústria e comércio que dele precisavam o apoio para o perigo de greves e outras imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa, especialmente para aquelas ocasiões especiais, embora elas nunca faltassem a mesas do príncipe exilado.
A casa do príncipe vivia sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava nas ruas e lhe pediam auxílio. Mandava essas pessoas embarcarem na carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência onde sempre havia lugar para mais um . Todos ali ficavam até que quisessem ir embora. Entre os que viveram muito tempo junto ao príncipe estava um branco, desdente de alemães oriundo de São Sebastião do Caí, que tinha feito estudos de medicina e dessa maneira o auxiliava no atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca dos remédios e dos "trabalhos" do chefe africano exilado.
Para os rigores do inverno o príncipe Custódio adotou o poncho gaúcho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua personalidade, não o deixando nem quando visitava o Palácio Piratini onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom atendimento, e onde ele muitas vezes usava o seu prestígio para conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro de sua comunidade.
Durante todos os anos em que viveu em Porto Alegre - 31 ao todo - nunca manteve correspondência ostensiva com parentes ou amigos deixados em terras africanas. De lá recebia informações e daqui envia notícias suas em mãos por intermédio de marítimos que tripulavam vapores vindos à nossa metrópole transportando e levando mercadorias. Também nunca se soube o teor dessas correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião não era. Pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Além disso, a Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico local entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam àqueles que o procuravam nos momentos de aperturas financeiras.
No verão, em janeiro, o programa era conhecido. Ia todo mundo para a casa de propriedade de Custódio Joaquim de Almeida, na Praia de Cidreira. A viagem para o velho balneário era qualquer coisa de sensacional e folclórico. Embora fosse dono de carruagem e tivesse dinheiro para alugar quantas diligências quisesse, o príncipe gostava de viajar em carretas puxadas por bois na maior calma e na mais incrível lentidão. E ainda mais: a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de Porto Alegre à Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e tratador, fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa já viu foi quando Custódio completou cem anos de idade. Nesse dia muita gente "bem" foi abraçá-lo em sua casa, e ele, dando demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber qualquer ajuda. Aliás, isto ele fez até poucos dias antes de sua morte, quatro anos depois.
No dia 26 de maio de 1936 morreu o príncipe Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos "trabalhos", em intenção do morto.
Com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes e esquisitas da nossa cidade, e muita gente ficou desamparada, pois a subvenção paga mensalmente em libras pelo governo inglês extinguiu-se com a morte do príncipe de Ajudá.
A NAÇÃO CABINDA NO RIO GRANDE DO SUL
A Nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.
Os Inkinces são para os Bantus o mesmo que os Orixás para os Yorubás, e o mesmo que os Voduns são para os Jêjes. Não se trata da mesma divindade, cada Inkince, Orixá ou Vodum possui identidade própria e culturas totalmente distintas. A linguagem ritual originou-se predominantemente das línguas Kimbundo e Kikongo; são línguas muito parecidas e ainda utilizadas atualmente. O Kimbundo é o segundo idioma nacional em Angola. O Kikongo, provém do Congo, sendo também falado em Angola.
Aqui no Rio Grande do Sul a raiz forte da Cabinda foi o Pai Waldemar Antonio dos Santos, filho do Orixá Xangô Kamuká Baruálofina, que foi feito pelo africano Gululu de Xangô; e uma descendente de Pai Waldemar foi a Mãe Madalena de Oxum, que se destacou grandiosamente dentro desta Nação.
Outros que se iniciaram pelas mãos de Pai Waldemar de Xangô, e alguns, com sua morte passaram para as mãos de Mãe Madalena de Oxum (única filha pronta com todos os axés): Pai Tati de Bará, Mãe Palmira de Oxum, Ramão de Ogum, Moacir de Xangô, Pai Mario de Ogum e Pai Nascimento de Sakpatá, oriundo de outra nação. Depois foram surgindo outros ícones da nação Cabinda, onde podemos citar Pai Romário de Oxalá, filho de santo de Mãe Madalena de Oxum; Mãe Olê de Xangô, mulher de Pai Tati de Bará; Pai Henrique de Oxum, enteado e filho de santo de Mãe Palmira de Oxum; Pai Adão de Bará de Exu Biomi; Pai Cleon de Oxalá (filho de Mãe Palmira e hoje podemos dizer que é o patriarca dessa Nação); Pai Enio de Oxum, filho de santo de Pai Romário; Pai Antonio Carlos de Xangô, Mãe Marlene de Oxum, da casa de Pai Romário; Pai Paulo Tadeu de Xangô; Pai Genercy de Xangô; Hélio de Xangô, Pai Adão de Bará; Didi de Xangô; João Carlos de Oxalá, de Pelotas; Juarez de Bará; Pai Gabriel de Oxum, da casa de Pai Romário de Oxalá; Lurdes do Ogum; Luiz vó da Oxum Docô, da casa de Pai Romário de Oxalá; Ydy de Oxum, filho de santo de Pai Henrique de Oxum, entre muitos outros que conservam, ainda, os fundamentos desta Nação tão importante nos rituais Africanos do Sul.
Os praticantes da Nação Cabinda também se valem dos Orixás da Nação Ijexá e alguma coisa dos seus rituais, já que esta última é atualmente a modalidade ritual predominante aqui no Rio Grande do Sul; a diferença se dá basicamente nos procedimentos, realização e execução dos rituais nas obrigações, respeito à memória de seus ancestrais e a outros fatores como o início dos fundamentos da Nação Cabinda, que é justamente onde termina os das outras Nações: o cemitério. No culto ao Egunque é considerado Rei nesta Nação.
O Orixá Xangô é considerado Rei desta nação, dono dos Eguns, juntamente com Oyá e Xapanã; E o culto aos Eguns é tão forte que na maioria dos terreiros desta nação, se encontra o assentamento de Balé (culto aos Eguns), que são feitos anualmente; Os filhos de Oxum, Yemanja e Oxalá, podem entrar e sair de cemitérios quando necessário for, sem nenhum prejuízo a sua feitura, já nas outras nações estes só entram no cemitério em extrema necessidade; Se estiver acontecendo uma festa num terreiro de Cabinda, e se o Orixá Xangô, tendo recebido oferendas de quatro pés, e vier a falecer algum membro da casa ou da família religiosa, não ficará a obrigação prejudicada, conforme acontece nos outros terreiros, nos quais teriam que interromper toda a obrigação.
Os Orixás cultuados na Nação Cabinda são os mesmos da Nação Ijexá acrescentando Bará Elegba e Zina, que são cultuados em alguns terreiros desta Nação, face as mesclas que ocorreram alguns Ilês de Cabinda cultuam Oyá Timboa e Dirã. Na maioria das vezes os itens das oferendas são iguais mas se diferem na confecção/elaboração do Ebó.
O PAÍS CABINDA
CABINDA é uma república que fica localizada na África Central e ocidental tendo 421 Km de extensão onde ao norte fica Congo, no leste esta o Zaire e sua costa ao oeste é banhada pelo oceano atlântico, tendo um clima equatorial, tropical de muitas florestas, assim como no Brasil, não sofre com perigos naturais. Sua Capital é Tchiowa.
Hoje em dia é constituída por mais ou menos 1.500.000 habitantes descendentes de um povo guerreiro, isso pode ser visto em seu atual brasão, é constituído de dois leopardos, duas espadas africanas, folhas de palmeira e ao centro a representação do sol da lua e uma mulher com filho nas costas (todo este simbolismo indica um antigo povo guerreiro).
Até hoje em dia eles lutam pela sua liberdade, foi província do Congo Português até 1975 e desde esta época vem recebendo constantes invasões dos militares de Angola que tende a trona-la sua vassala. Os grupos étnicos de Cabinda são os Ba-Cochi, Ba-Sundi, Ba-Yombe, Ba-Linge, Ba-wacongo, Ba-Woyo, Ba-Vili e africanos brancos, africanos nativos e europeus. Predominam hoje em dia a religião católica, protestante e as antigas tribais. Os idiomas que são falados são: a língua tradicional cabinda, francês, alemão, bantu, lingala, kikongo de leta e outras línguas africanas. Aqui no Brasil podemos dizer que os Cabinda aportaram nas regiões norte, nordeste e sul e em pequena quantidade na época da escravidão. Sua modalidade religiosa também fica variada, pois no Sul a Cabinda cultua os Orixás Yorubás, no norte e nordeste eles se assimilaram muito com os índios brasileiros e podemos dizer que o culto é bem próximo ao Toré de Caboclo. (Mais uma adaptação para não perder sua religiosidade)
A nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.
EGUN
A realização de nosso rituais que envolvem Eguns são sempre cheio de mistérios e medos, principalmente porque é um ritual que não é dominado por muitos dos atuais sacerdotes africanistas.
É de praxe que a Casa dos Eguns – Balé, tenha seu local separada do Ilê, sempre nos fundos, neste local são realizados nossos rituais destinados ao culto aos Orixás de nossos antepassados, onde são sacrificados animais a esses Orixás bem como frenteados.
Já para os Eguns (espíritos de nossos antepassados), também existem pratos servidos a eles, como uma lembrança daqueles que já partiram, pratos esses que só podem ser servidos e comidos nestas ocasiões, isto é, uma vez ao ano, na obrigação de ano no Balé, ou quando há falecimento de algum membro do terreiro.
Neste tipo de obrigação, além das rezas normais tiradas em dias de xirês, existem as rezas próprias para Eguns, também em yorubá e o toque do tambor é feito com o couro frouxo.
Esta obrigação aos eguns, tem seu ritual diferente de acordo com sua Nação.
A INICIAÇÃO NA RELIGIÃO
A iniciação na religião se faz durante um período de reclusão na casa de culto, a qual implica vários tabus, tais como, as relações sexuais, certos alimentos, o calor do sol, etc. Durante este período, o noviço se aprofunda nos mistérios da religião. Esta iniciação exige uma série de banhos cerimoniais, inclusive com o sangue de animais sacrificados. Diz-se que a pessoa "está no santo" quando seu orixá protetor se apossou de sua consciência, dela só se afastando mediante o ritual do "despacho de santo", este realizado pelo Babalorixá ou por um filho mais velho e experimentado. Diz-se então que o noviço "está feito": é "filho-de-santo".
A partir daí é uma aprendizagem contínua: "... a aquisição de conhecimentos é uma experiência progressiva, iniciática, possibilitada pela absorção e pelo desenvolvimento de qualidades e poderes". A aquisição de tais conhecimentos só é efetiva se houver contato constante com o sagrado. O Batuque se diferencia de outras religiões porque o indivíduo aprende pela observação direta, o que pressupõe sua presença a prática ritual. Dentro de algum tempo, após cumprir todas as etapas da iniciação e de ter recebido todos os "axés": o direito e poderes para "olhar os búzios" e para cortar (sacrificar animais segundo o ritual) o filho-de-santo "pronto" pode estabelecer-se com casa de culto própria, da qual será o Babalorixá.
O cumprimento de cada uma destas etapas, se de um lado confere prestígio, direitos e privilégios junto á comunidade batuqueira, de outro, corresponde a obrigações e comprometimentos cada vez maiores com o sagrado.
O filho-de-santo desde a iniciação até o fim da vida fica ligado ao seu orixá por laços muito rigorosos de obediência e cultos, não só por interesse de receber do orixá as graças e a proteção desejada, mas também para evitar castigos e as penas por ele impostas ao seu filho que não procede com correção ou negligência os deveres religiosos. Além disso, o "filho-de-santo" deve estrita obediência a seu "pai" ou "mãe-de-santo", subordinação esta tão extensa que atinge até a conduta fora da casa de religião.
OBRIGAÇÕES DE INICIAÇÃO
LAVAGEM DE CABEÇA
É a primeira obrigação da iniciação. O Babalorixá ou Yalorixá utiliza o Mieró (ervas sagradas maceradas com água pura), enquanto tira-se o Erí, ou seja, a reza do Babalorixá ou Yalorixá.
Debruçado sobre uma bacia de ágata, contendo o mieró, o iniciando tem sua cabeça lavada. Depois seca com uma toalha branca. A partir de então o iniciando passa a ser "filho-de-santo”, devendo respeitar e participar de todas as atividades que ocorrerem no Ilê.
OBS: O Mieró deverá ser feito para a lavação de cabeças, de obrigações (Boris, Ocutás, Vasilhas, etc.) ou mesmo um banho de descarga.
BORI
O Bori de aves é a obrigação em que o filho-de-santo reafirma sua convicção dentro da religião. É feito como uma preparação para o aprontamento, ou como um "reforço de cabeça", que tem como objetivo melhorar as condições gerais do filho-de-santo. Na obrigação do bori são consagrados alguns objetos que juntos também se chamam bori: uma manteigueira de vidro ou porcelana, 01 moeda antiga, alguns búzios (de acordo com o número de axé do orixá) e 01 quartinha (espécie de vaso de barro sem tampa). Estes objetos são colocados dentro de uma vasilha, juntamente com as guias e recebe o sangue (axorô) dos animais sacrificados, vasilha esta que fica no colo do filho que está sendo borido, enquanto este fica sentado no chão. O Babalorixá faz as marcações no corpo do filho da mesma forma que foi feita no aribibó, com a diferença de serem sacrificados além de pombos, galos ou galinhas, de acordo com o orixá dono da cabeça do filho-de-santo. Na continuação da obrigação de bori conservam-se as mesmas etapas do aribibó, porém no bori há uma testemunha a quem chamamos de padrinho ou madrinha de cabeça, devendo-se total respeito ao padrinho, que deverá ser alguém com feitura, filho-de-santo pronto, pois é o padrinho ou madrinha que deverá ser procurado caso o afilhado necessite de orientação e o Babalorixá estiver impossibilitado de auxiliar o filho-de-santo.
Terminada as etapas da matança o borido é auxiliado a trocar de roupa e deita-se no chão mantendo-se o mais próximo de sua obrigação. Os animais sacrificados vão para a cozinha, onde são preparadas as inhélas (partes extremas e vitais das aves, fritas em óleo) que serão servidas aos orixás e com o restante do corpo das aves serão preparadas as refeições para alimentar o povo que permanecerá no Ilê durante o período de obrigação, ou então serem servidas durante a noite de Batuque.
A reclusão do filho de santo que está sendo borido varia de 03 a 04 dias em média. Durante este período o borido reduz ao máximo suas atividades e movimentos, permanecendo a maior parte do tempo deitado ao chão. Após o batuque e o término do período de reclusão levanta-se a obrigação e monta-se o bori: Coloca-se dentro de uma manteigueira a moeda ao centro rodeada pelos búzios.
Cobre-se com bastante mel. Agora o filho-de-santo tem o Bori (a manteigueira com os búzios e a quartinha cheia d'água), que ficará guardado no Quarto-de-Santo, numa prateleira coberto por cortinas, juntamente com os Boris dos demais filhos do terreiro, até que este filho se apronte e tenha seu próprio terreiro. O Bori é considerado a "cérebro" do indivíduo, portanto exige certos cuidados, não deve ser mexido, a quartinha deve estar sempre com água e deve ser reforçado de tempos em tempos com nova obrigação.
Há vários tipos de Bori:
Bori de Aves: quando são sacrificados galos ou galinhas da cor pertencente ao orixá de cabeça e para o orixá que rege o corpo da pessoa. É uma obrigação de iniciação para o filho-de-santo novo ou de reforço para o filho que fez bori e que precisa renovar sua força espiritual.
Bori de Meio Quatro-Pé: como é chamado vulgarmente, pois é considerado como preparação para o aprontamento, isto é, antecede o Bori de Quatro-pés. Esta obrigação é feita para filhos que já tenham feito bori de aves e também pode ser feito como reforço, para os que já são filhos prontos. É sacrificado um casal de galinhas d'angola se o filho-de-santo pertence a um orixá de frente, casal de marrecos se o filho-de-santo pertencer á Oxum ou Oxalá ou então, um casal de patos se for filho de Iemanjá. A feitura de um Bori de Meio Quatro-Pés, vai depender da necessidade do indivíduo e/ou da exigência de seu orixá, o que será verificado junto ao Babalorixá ou Yalorixá através do Ifá.
Bori de Quatro-Pés: considerado como apronte de cabeça, principalmente quando junto ao Bori ocorre o assentamento do Orixá de cabeça do filho-de-santo. Ocasião onde se consagra não somente o Bori, mas também os objetos místicos: as ferramentas e o ocutá onde será fixado o orixá e a guia delegum, guia com vários fios de contas que variam em número e cor de acordo com o axé do orixá. È sacrificado um animal de quatro patas de acordo com o orixá do indivíduo. A partir desta obrigação, aumentam as responsabilidades do filho-de-santo, assim como seu prestígio junto á sociedade batuqueira. O período de obrigação, em que o filho fica "preso" no Ilê é maior do que no Bori de Aves, variando de 06 a 20 dias ou mais, Isto vai depender da situação e das regras dadas pelo Babalorixá.
APRONTAMENTO
O aprontamento corresponde ao estabelecimento oficial e definitivo do vínculo místico indivíduo/orixá. Entretanto este vínculo precisa ser renovado de tempos em tempos, pois o ato de colocar axorô na cabeça implica na idéia de alimentar o orixá e fortalecer o seu filho. O aprontamento sempre ocorre na obrigação que chamamos de matança e os principais passos do aprontamento são muito semelhantes em todos os terreiros, e são eles:
1. O corte dos animais ofertados a cada um dos orixás a serem assentados em cima da vasilha que contém os objetos a serem consagrados.
2. No caso do aprontamento de cabeça o axorô do animal também é derramado sobre a cabeça do filho-de-santo que está se aprontando, tal como é feito no bori.
3. Os animais sacrificados são coureados, para que possam ser preparados e servidos no Batuque que será realizado. Geralmente a matança se dá numa Quinta-feira, sendo uma obrigação fechada, comparecendo somente os filhos do Ilê. No sábado dá-se o Batuque grande, quando comparecem ao Ilê grande número de pessoas, pertencentes ao batuque ou não.
Após as etapas da matança segue-se a preparação para o Batuque que será dado em homenagem aos orixás que estão sendo assentados. A preparação do Batuque compreende desde a decoração do salão, até a confecção dos alimentos que serão servidos
AXÉS DE OBÉ E IFÁ (facas e búzios)
O filho-de-santo é agraciado com os axés de Obé e Ifá, quando o Babalorixá ou Yalorixá perceber o desenvolvimento, o empenho e o merecimento do filho para com suas obrigações e o comprometimento com seus Orixás e com os fundamentos da Religião. Significa que o Babalorixá tem extrema confiança no filho que irá receber os axés, tanto em relação aos seus conhecimentos, quanto ao seu caráter e honestidade, pois é através do Ifá que se auxilia quem precisa de orientação e com o Obé realizamos os fetiches para os Orixás. A entrega destes axés ocorre no Batuque de terminação, geralmente no sábado posterior ao Batuque Grande.
Quando for entregue os axés, os objetos que compõe o jogo de Ifá e as facas deverão ser colocados em uma bandeja enfeitada com flores e folhas e se fará o ritual de entrega. O padrinho ou madrinha segurará uma vela acesa testemunhando a obrigação. Antes de dar início à entrega dos axés o Babalorixá dirá um pequeno discurso sobre a importância e a utilidade dos axés que estão sendo entregues perante todos os presentes. A partir de então o filho-de-santo é considerado pronto, isto é tem sua obrigação completa com o assentamento de todos os orixás e os axés de obé e ifá. Depende agora de seu desenvolvimento e aptidão e, com o consentimento de seu orixá-de-cabeça e de seu Babalorixá poderá ter seu próprio Ilê.
FALA DOS ORIXÁS
As primeiras manifestações do orixá são muito rudes, diz-se que o orixá nasceu ao chegar pela primeira vez ao mundo. O Babalorixá ou Yalorixá começa então a ensinar ao orixá certos comportamentos e fundamentos necessários para o bom desempenho do ebó. O orixá não necessita falar para dar o seu axé, porém após atingir um certo nível de desenvolvimento o Babalorixá concede a permissão da fala para que o Orixá possa auxiliá-lo durante o Batuque nos afazeres que acontecem durante o ebó, além de auxiliar com os orixás que são mais novos e que estão em pleno desenvolvimento.
É um axé de muito segredo e fundamento. O Babalaô deve jogar para ver se pode dar a fala e se o Orixá aceita. Deve apresentar o axé para as testemunhas e dar início à obrigação, que consiste numa prova para verificar a veracidade da possessão ou não.
A confirmação positiva da veracidade e da força do orixá é algo de muita comemoração. Todos os que participaram da prova da fala, testemunhas, orixás, babalaôs, entram no salão e o orixá que recebeu a fala é vestido com uma capa e saudado por todos os presentes ao batuque.
OBRIGAÇÕES
QUINZENAS
As quinzenas são obrigações menores que duram normalmente dois ou três dias - a matança e o toque (Batuque) - é freqüentado por um número não muito grande de pessoas e geralmente estão associadas a alguma data comemorativa ou a obrigação de bori de filhos-de-santo do Ilê. Há o toque dos erís dos Orixás, as comidas-de-santo são ofertadas aos orixás e as tradicionais comidas servidas ao povo: canja, canjica branca e amarela, amalá. Por ser uma obrigação menor, exige um mínimo de aves a serem sacrificadas, cujo axorô e inhélas são ofertadas aos orixás. A carne das aves é consumida nos intervalos do toque do tambor, servida enfarofada ou na canja, comidas tradicionalmente ofertadas às pessoas que comparecem ao ebó. Há ainda as "quinzenas secas", quando não há sacrifício de animais. Os alimentos servidos ao povo são basicamente doces. Sendo as quinzenas obrigações menores, constituem em excelente oportunidade para a aprendizagem dos fundamentos do Batuque, dos Erís e da organização do Ebó.
OS ORIXÁS "VÃO A GUERRA"
Realizada no período na semana santa, não ligada ao catolicismo, mas um período em que o mundo entra em luto pela crença católica. Por estar em luto à humanidade fica fragilizada e desprotegida, então se faz nos terreiros a obrigação de mandar os santos para guerra, Arriam-se novas oferendas, além de doces e flores em sinal de agradecimento e alegria pela volta dos Orixás, e pelo término do período de luto.
Geralmente acontece na quinta-feira santa á noite, os orixás que costumeiramente chegam, manifestam-se em seus filhos-de-cabeça, perto da porta da entrada do Ilê e com uma expressão mais pesada, com feições mais sérias, como se estivessem tristes. Recebem no Quarto-de-Santo um saquinho de tecido contendo grãos que simbolizam o axé e o alimento que serão necessários na guerra. Levam também todos os axés que estiverem arriados no Quarto-de-Santo, este permanecendo vazio até o sábado de aleluia em sinal de luto.
No sábado de aleluia, entorno dás 10:00 horas da manhã, abre-se o Quarto-de-Santo, o tamboreiro toca os Erís e os Orixás que foram para a guerra manifestam-se novamente, simbolizando a chegada da guerra. São recepcionados com muita alegria, pois o período de guerra e de luto foi superado. Arriam-se novas oferendas, alem de doces e flores em sinal de agradecimento e alegria pela volta dos Orixás, e pelo término do período de luto.
A ENTREGA DO ANO
Na concepção batuqueira, cada ano é regido por um orixá que é acompanhado por outros orixás. A determinação de qual orixá irá reger o ano é dada através do Jogo de Búzios. Esta limpeza é diferente das demais limpezas feitas durante o ano, pois é realizada com o axé de todos os orixás, mais 07 varas de marmelo. (que pertencem a Ogum, para cortar as demandas), a vassoura de Xapanã (de palha ou com 07 cores de tecido, para varrer as mazelas e feitiçarias) e com 01 ave do orixá que está entregando o ano. É feita à marcação dos que fizeram a limpeza e segurança amarrando-se ao pulso ou tornozelo um molho de linhas com as cores de todos os orixás, o que significa que o indivíduo está puro e seguro para enfrentar o ano que vai vir. Esta Limpeza é feita também nas pessoas comuns que freqüentam o Ilê.
Depois da Limpeza é feito o océ nos Orixás, limpeza das ferramentas, dos ocutás e de tudo o que pertencem aos Orixás. E finalmente é realizado o toque em homenagem aos Orixás que estão entregando o ano e aos orixás que irão reger o próximo. A água contida nas quartinhas dos Orixás são despachadas e trocadas por uma nova água, o que simboliza a renovação do axé. É uma obrigação com caráter festivo, porém não deixa de ter seu caráter religioso.
OS RITUAIS FÚNEBRES DENTRO DA RELIGIÃO AFRICANISTA
O Batuque cultua seus antepassados, e embora o culto aos que já se foram faz parte do Fundamento Religioso do Batuque, as obrigações, bem como tudo o que se refere aos rituais fúnebres é separado e diferente do culto aos Orixás.
Há muito respeito e um certo temor ao se falar em "Egun" - espírito dos que se foram - causando até mesmo pânico entre aqueles que não conhecem os fundamentos religiosos. Babalorixás e Yalorixás que atingiram um grau mais elevado na Religião possuem o Balê ou "Buraco", local específico para as obrigações ligadas aos mortos, geralmente situado no extremo oposto á entrada do terreiro, porém quando o Balê ou Buraco não é estabelecido, os rituais e oferendas aos eguns são feitos no mato. As obrigações de egun acontecem em períodos pré-estabelecidos (geralmente próximo á Semana Santa e no Dia de Finados) e anualmente no dia em se comemora a abertura do Balé, salvo ao fato de algum filho-de-santo vir a falecer.
No caso de falecimento do Babalorixá dono do terreiro, o luto no templo dura um ano, neste período ficam suspensas obrigações de corte, toques e fetiches, sendo somente liberado o Jogo de Ifá trinta dias depois para que se possa manter a economia do terreiro. No Balê são feitas as oferendas aos eguns - comidas ritualísticas específicas, flores, bebidas, cigarros, perfumes, etc. - como forma de homenagear nossos ancestrais, desde aqueles que deram início á nossa gôa (família religiosa) até aqueles que se foram mais recentemente.
Ao falecer um iniciado na Religião Africanista é necessário realizar as Obrigações de Desligamento e quanto maior for o grau de importância desta pessoa dentro do culto, maior e mais detalhada será a obrigação, que significa o desligamento do espírito da pessoa falecida com a vida material e terrena. Os cânticos que no lado dos Orixás são chamados de Erís, nos Eguns são chamados de ateté e são acompanhados ao som do tambor xôxo, não há utilização de sineta e nem de agê, a roda movimenta-se no sentido horário e anti-horário, no momento adequado, enquanto balançam-se os braços, os participantes usam sapatos, características contrárias às das obrigações para os Orixás. Além de homenagear os ancestrais, as Obrigações de Egun também servem para descarregar as cargas negativas.
O BATUQUE GRANDE
A seguir serão descritas as etapas que compõe um ebó, ou seja, o Batuque Grande. Esta obrigação acontece pelo menos uma vez ao ano em cada Ilê e tem duração média de 10 a 16 dias, podendo estender-se até em 32 dias ou mais, conforme a organização, a necessidade e a disponibilidade de cada Ilê. É quando se dá o aprontamento dos filhos-de-santo, são entregues os axés de Obés e Ifá, é dado o axé de fala aos Orixás e quando se comemora o aniversário de assentamento dos Orixás de cabeça daqueles que se aprontaram nos ano anteriores.
No Ilê de mei Pai de Santo, Pai Enio de Oxum, realizasse dois grandes ebós durante o ano: no mês de Maio em homenagem ao aniversário de assentamento de Oxum Miuá de Pai Enio e em novembro. Na obrigação de Maio os demais filhos prontos também homenageiam seus orixás, e são realizados Boris e aprontes.
As etapas de um ebó podem variar de casa para casa, porém iremos descrever como foi transmitido por Pai Enio de Oxum, que aprendeu de seu Babá Pai Romário de Oxalá, e é assim que recebi e é assim que transmito com a intenção de perpetuar os fundamentos e ensinamentos da Nação Cabinda ao qual pertenço.
SERÃO OU CORTE AOS ORIXÁS
A Religião Africanista é em seus fundamentos voltada para o passado, mantém até hoje ensinamentos e preceitos, desde o tempo mais remoto, do negro na África e chegou até nós através dos escravos. Sobreviveu a todos os períodos de opressão e perseguição. Daí a enorme importância da obrigação de corte aos Orixás, pois é a preservação da cultura que ao mesmo tempo em que ofertava certos sacrifícios aos Orixás alimentava seu povo com a carne do sagrado. Depois adiantando na linha do tempo, entramos nas casas comuns e nos terreiros em que os animais andavam soltos no pátio e serviam para a subsistência familiar, ainda não existia as facilidades que hoje são disponíveis nos supermercados. Nos Ilês Balança Vão ao Quarto-de-Santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís dançados unicamente pelos orixás de frente.
Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer a um dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança Axé dos Presentes enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia do Ilê, etc. É neste momento o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos os presentes recebidos. Levantação, limpá-las e guardá-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-Santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, o “Passeio”, saindo do Ilê da obrigação, indo até o centro da cidade visitar lugares de grande significado para a comunidade.
O serão ocorre geralmente na quinta-feira ou sexta-feira á noite, começa entorno das 22:00 horas e estende-se muitas vezes até a madrugada, das obrigações de bori e de apronte que serão feitas.
No serão são imolados animais quadrúpedes (aos quais chamamos vulgarmente de quatro-pés) e de aves. As oferendas feitas aos Orixás são de origem animal assim como vegetal (folhas, plantas, grãos) e mineral: os ocutás, a água, etc. Os animais são ofertados os Orixás com o intuito de fortalecer o axé do Orixá assim como a mente e espírito do filho-de-santo através do axorô (sangue do animal) e das inhélas, certas partes dos animais que serão fritas, conforme o caso, e arriadas no Quarto-de-Santo (cabeça, pés, testículo no caso dos quatro-pés e cabeça, pés, pontas das asas, do pescoço e da sambiqueira, pulmões e testículos das aves).
A carne dos animais imolados serão preparados em forma de canja, de amalá, assados, enfarinhados e consumido pelo povo durante o período de obrigação e pelas pessoas que comparecerem ao toque, Batuque. Os couros retirados dos animais, depois de preparados são utilizados na confecção dos tambores, instrumentos tocados durante o Batuque. Nada é desperdiçado, por exemplo, no Ilê de Oxum é grande o número de animais imolados, devido ao grande número de filhos que o Ilê tem, quando não é consumida a totalidade de carne e de comida preparada, o restante é doada a entidades carentes nas proximidades do Ilê.
PREPARAÇÃO DO TOQUE
No dia posterior ao corte, permanecem alguns filhos-de-santo no Ilê para preparem em todos os detalhes o toque que irá acontecer no sábado. As principais atividades acontecem na cozinha, considerada a parte mais importante do Ilê, depois do Quarto-de-Santo. É necessário que um filho-de-santo, mais experiente e de extrema confiança do Babalorixá auxilie na organização de tudo que deve ser feito, pois os afazeres são muitos e o tempo escasso.
Além de todas as comidas-de-santo, devem ser feitas comidas tradicionalmente sagradas e significativas que serão servidas ás visitas que são esperadas mais tarde no toque.
Com as aves preparam-se: canja, galinha assada, galinha enfarofada. Com a carne do carneiro faz-se o amalá, comida consagrada ao Orixá Xangô: A carne cozida e cortada é agregada ao molho com folhas de mostarda picada, servido com pirão de farinha de mandioca. Os cabritos e porcos são assados e servidos em pedaços. Faz-se também canjica de milho branca e amarela, além de uma variedade de doces como: sagu, pudim, ambrosia, quindim, docinhos, etc... Para beber serve-se o atã, bebida típica do Orixá Ogum, feita com frutas minusculamente cortadas, misturadas com guaraná e xarope de groselha. Os miúdos dos quatro-pés são cozidos e picados de forma bem miúda para se fazer o sarrabulho, uma espécie de farofa temperada com cheiro verde, cebola e os miúdos picados. As filhas de Iansã, ajudadas por outros irmãos fazem o acarajé, comida consagrada ao seu Orixá de cabeça. Havendo disponibilidade faz-se ainda os bolos que serão ofertados pela ocasião do aniversário de assentamento dos Orixás.
A preparação do toque segue com a arrumação do Quarto-de-Santo que deve ter: flores, perfumes, as comidas-de-santo, atã, pelo menos uma porção de cada comida que está sendo feita para o povo, frutas, balas enroladas em papéis coloridos, os bolos de aniversário. Além das inhélas e das vasilhas contendo as obrigações e de outros fetiches religiosos. Há ainda a arrumação do salão, onde acontece o toque, e das demais dependências do Ilê que depois da limpeza são organizadas para melhor receber os convidados, Babalorixás e Yalorixás que juntamente com seus filhos-de-santo vêm prestigiar a obrigação.
O MERCADO
Também faz parte da preparação para o toque a confecção dos mercados que serão distribuídos no final do Batuque. O significado e a explicação desta denominação perderam-se nos tempos, porém seu significado religioso continua forte. Os mercados são pacotes onde se colocam as comidas-de-santo para ser ofertado ás visitas simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e fraternidade a todos os lares e Ilês.
O axé obrigatoriamente deve ser dividido entre os que compareceram ao toque, principalmente quando o ebó é de quatro-pés. Cada Ilê acondiciona o mercado da maneira que lhe convém: em bandejas, em pacotes, em caixas de papelão, etc., porém o que não muda muito é o conteúdo do mercado. O mercado deve conter: pedaços de carne de cabrito assada, frutas, bolo, axoxô (milho cozido, pertence á Obá), pipoca (pertence á Bará), batata doce frita em rodelas ou acarajé (pertence á Iansã), doces - quindim, docinhos, balas (pertence á Oxum). No final do toque também são distribuídos, bolos, carnes, frutas.
O Babalorixás, muitas vezes presenteia os Babalorixás e Yalorixás visitantes com flores do Quarto-de-Santo, para que sejam colocadas em seus Quarto-de-Santo, como sinal de agradecimento pelo comparecimento no ebó. Caso ainda sobre alguma comida ou fruta, deve ser doado a pessoas carentes ou instituições de caridade.
O TOQUE
O toque geralmente inicia ás 23:00 horas, quando todos os filhos-de-santo devem estar presentes e devidamente trajados de seus axós, para auxiliar o Babalorixá ou Yalorixá a recepcionar os visitantes. O início do toque se dá com a chamada: todos em silêncio, ajoelham-se, enquanto o Babalorixá em frente ao Quarto-de-Santo, tocando o adjá (espécie de sineta) saúda a todos os Orixás, de Bará a Oxalá, fazendo pedidos de abertura, de paz, saúde e prosperidade a todos os presentes. Os filhos-de-santo respondem com a saudação específica de cada Orixá.
Os alabês (tamboreiros), "puxam" os erís, isto é tocam os tambores enquanto entoam os erís, para que os presentes respondam, e a roda se forma no centro do salão, movimentando-se no sentido anti-horário. Os erís têm coreografias adequadas a cada orixá ou a cada "passagem", (relação da reza com alguma história daquele orixá), por exemplo: nos erís do Orixá Ogum ora dança-se simulando com as mãos o trabalho do ferreiro na forja, ora dança-se simulando a utilização de uma lança, relacionando com Ogum guerreiro.
Todos podem fazer parte da roda, adultos, crianças, iniciados e prontos, porém alguns detalhes devem ser observados. Participam da roda pessoas que estejam de axó (calça comprida para os homens, e no mínimo saia para as mulheres, desde que não seja curta), mulheres em período menstrual não participam do Batuque, mas podem auxiliar na manutenção, na limpeza e na recepção dos convidados. As pessoas que estiverem de luto também não podem participar do ebó, ficando somente na assistência.
Os Orixás que "chegam" usam o centro da roda para dançarem e darem os seus axés, com exceção dos orixás "velhos" que são encaminhados a sentarem-se nos banquinhos a eles destinados. Os erís seguem a hierarquia dos Orixás, sendo de responsabilidade do alabê a exatidão dos erís assim como a ordem dos acontecimentos no decorrer do toque.
SEGUNDO O FUNDAMENTO DA NAÇÃO CABINDA TEMOS:
A BALANÇA ou RODA-DE-PRONTOS
Chama-se balança ou cassum em homenagem a Xangô e também por conter o axé de todos os orixás em equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive os orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da balança.
Só há balança quando há ebó de quatro-pés, que é constituída exclusivamente por pessoas prontas na religião, que já tenham feito ao menos bori de quatro-pés, no mínimo 06 pessoas (conta de Xangô) podendo ser em número múltiplo de 06: 12, 18, 24, 32. Caso o número de prontos seja excedente, por ser feito mais de uma balança, aí então costuma-se fazer uma balança com pessoas de orixá de frente e uma balança com o povo de praia. Os participantes colocados lado a lado, formando uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações ao mesmo tempo, sendo somente de orixás jovens (Oxum, Iemanjá e Oxalá velhos só podem chegar depois do início dos erís de Oxum). Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: Vão ao Quarto-de-Santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís destinados unicamente pelos orixás de frente.
Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer por dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes.
ALUJÁ DE XANGÔ E ALUJA DE IANSÃ
Logo após a Balança os Orixás que estão no "mundo" dançam o Alujá do Xangô e o Alujá de Iansã, respectivamente, ritmos do tambor, característicos destes Orixás. Os orixás jovens dançam em frente ao "pagodô" local mais elevado (espécie de palco) onde ficam os alabês. Durante o alujá é contagiante o axé e a empolgação com que os orixás dançam, proporcionando um momento de rara beleza.
A SAÍDA DO ECÓ
Terminado os Erís de Obá é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar com água, farinha de mandioca e gotas de epô - azeite de dendê) e do ecó de Oxum (Vasilha de vidro com farinha de milho, água, mel e perfume e flores).
A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes prepara o ambiente para os erís dos Orixás de praia, que tem um toque mais brando. Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que agora puxam os erís dos orixás da rua - Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Dirã - não há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali contida.
RODA DE IBEDJI
No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibedjis. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na roda e na assistência, as frutas, os doces - quindins, merengues, cocadas, bolos - que estão no Quarto-de-Santo.
AXÉ DOS PERFUMES
Sendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há um momento especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de perfumes, leques e espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e espelhos enquanto outras se banham com perfume e distribuem um axé perfumado as pessoas que estão na roda e na assistência. Este axé faz uma referência sobre a "passagem" em que Oxum está no rio banhando-se, num ritual de beleza e encantamento.
AXÉS DOS PRESENTES
Geralmente acontece quase no final do Batuque, os orixás que estão aniversariando "apresentam" seus bolos, tantos os orixás quanto os filhos-de-santo que não se ocupam, mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento do orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. É de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ilê, etc. É neste momento que o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta o presente recebido.
O AXÉ DO ALÁ DE OXALÁ
Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos-de-santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco. Enquanto a roda e os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo ao orixá do branco a paz e a proteção.
OS AXERÊS
Conforme o Batuque vai acontecendo, os orixás chegam (ocupam-se da consciência e do corpo de seus filhos) e fazem o fundamento da religião, conforme o ensinamento do Babalorixá e da Yalorixá. Feita a obrigação os Orixás "sobem", vão embora. Os orixás são despachados, geralmente por filhos-de-santo mais antigos e experientes do Ilê, porém eles ficam em "axêre" ou "axêro" (No Candomblé são chamados de Erês), estado intermediário entre a ocupação do orixá e da pessoa propriamente dita. Os axêres agem como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras com as pessoas, pois seu linguajar é confuso, trocam as expressões como, por exemplo: "tigue" (tigre) quer dizer carro, "confeitaria" quer dizer bolo, "pouco" quer dizer muito, "feinho" quer dizer bonito, e assim por diante. È um momento de descontração, porém deve ser mantido o respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a essência do orixá.
A LEVANTAÇÃO DA OBRIGAÇÃO
Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam arriadas, limpa-las e guardá-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-Santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, as obrigações são guardadas no Quarto-de-Santo e ocultas por cortinas que geralmente tem á sua frente imagens católicas que se referem ao sincretismo religioso, assim como velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados pertencentes aos Orixás.
O PEIXE
A obrigação do peixe é feita pela manhã bem cedinho, e só ocorre em festas grandes, com quatro-pés. Alguém encarregado deve ir ao rio ou ao mercado público e trazer peixes ainda vivos para serem imolados aos Orixás, de Bará á Oxalá, por isso não pode ser uma quantidade muito pequena. Os orixás de frente recebem pintados como obrigação e os Orixás de praia recebem jundiá. No Quarto-de-Santo são imolados ao menos um peixe para cada orixá e a ele é destinado: as barbatanas, a cauda e um pouco de axorô (sangue). A carne dos peixes imolados é servida com pirão (ebó) no almoço e deve ser consumida pelos presos (filhos que estão de Obrigação) e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade.
Uma quantidade maior de peixes é preparada frita para ser servida ao povo que comparecer ao batuque de encerramento ou no Toque do Peixe - toque realizado na noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos, além das comidas dos orixás.
MESA DE IBEDJI
A obrigação da Mesa de Ibedji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero á doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São "tirados" erís de Bará, de Xangô e Oxum (que representam os Ibedji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibedji é riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza. Significa agradar e reverenciar aos orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e prosperidade.
Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela coloca-se 01 gamela de frutas, 01 gamela contendo amalá, flores, 01 quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes. As crianças participam em grupos de 06, 12 (números múltiplos de 06, a "conta" de Xangô), sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto. Serve-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, depois os doces e refrigerantes. Após terem comido o que foi servido, são dados ás crianças uma colher de mel e um gole de água. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças.
Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por orixás que tenham "chegado” na mesa e conduzido a formarem uma roda ao som de erís de Xangô. São feitas quantas mesas forem necessárias para que todas as crianças presentes participem da Obrigação.
Encerrada a Mesa de Ibedji, os Orixás que chegaram durante e a Mesa de Ibedji, recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o Quarto-de-Santo. Os brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram da Mesa.
TOQUE DE ENCERRAMENTO
É o toque que encerra as atividades públicas do Batuque Grande. Tem uma proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo corte do peixe e do corte de confirmação, quando são imoladas somente aves aos orixás. A cor dos axós é preferencialmente o branco e pode acontecer a Mesa de Ibedji antes do início do toque. São nesta noite que serão dados os axés de Obés e Ifá. Entre os alimentos servidos aos convidados prevalecem os doces, além da canja, da canjica e do amalá (este feito com carne de peito de gado). Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação do corte de confirmação.
O PASSEIO
O término da obrigação para os filhos-de-santo que estão presos por motivo de seu aprontamento ou por obrigação de Bori é o Passeio no dia posterior á Levantação, pela manhã, antes, porém o Babalorixá ou Yalorixá leva os presos até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem limites do Ilê.
É comum no centro de Porto Alegre reconhecer um grupo de “presos” passeando juntamente com seu Babalorixá ou Yalorixá. Saindo do Ilê vão até o centro visitar lugares de grande significado para a comunidade batuqueira: iniciando no Mercado Público - lá colocando sete moedas junto ao Bará assentado bem ao centro, pedindo prosperidade e fartura. Depois no Rio Guaíba (que banha a cidade), é reverenciada Oxum e jogam quatro moedas ao rio pedido prosperidade e fartura. A seguir na Igreja Pão dos Pobres (Bará), após na Igreja do Rosário (Oxum), depois na Igreja dos Navegantes (Iemanjá) e finalmente Igreja do Espírito Santo (Oxalá). Após, visitam quatro Ilês onde "batem cabeça" cumprimentando os Orixás. No Ilê visitado é oferecido um lanche aos visitantes. De volta ao Ilê da obrigação, batem cabeça no Quarto-de-Santo. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá na nova condição de Filho-de-Santo pronto, ou borido (conforme a obrigação realizada).
Axé a todos...
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