segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A entronação do Aláààfin e sua conservação - Parte 4



O BATUQUE DO R.S.

O Batuque Afrosul possui ritos próprios que o distinguem de todos os outros segmentos
religiosos de matriz africana. E basicamente dividido em quatro raízes: Jeje, Ijesa, Oyo e Kanbina.

Estas raízes praticam quase a mesma liturgia, cultuam praticamente as mesmas divindades, procedem quase da mesma forma ao utilizar as ervas e o Èjè, estas raízes  praticam o mesmo ritual e liturgia para o culto ao Orí, lidam da mesma maneira para iniciar e ou assentar as divindades que cultuam na feitura e conceito de Ìborí são idênticos, salvo um ou outro ritual que e modificado.

A nação objeto de nosso estudo e a Kanbina, que alguns falam Kabinda, talvez por julgarem-na uma nação de raiz banto, ligada a Cabinda, anexada a Angola. Entretanto, e o propósito deste trabalho mostrar o inverso, isto e, que existe uma grande possibilidade, devido a semelhança dos ritos iniciaticos relacionados aos Eégún, da nação Kanbina estar diretamente relacionados aos Aláààfin, e aos nagos, ao invés dos bantos.

Segundo Correa (1992, p. 50) “o Batuque manteve-se graças a estrutura sólida do modelo Jejenago, e ai supõe-se o ingresso de não-sudaneses. Entretanto, este ingresso não  resultou, ao que tudo indica, em grandes influencias banto no ritual”.

A Nação Kanbina e os rituais iniciaticos

O sacerdote de Kanbina, na hora sacrificar para Òrìsà, Ibori, ou assentamentos de Orisa,
costuma tirar uma reza na porta do templo, tendo a mão, a faca para Òrìsà, saudando e pedindo Ago ao Igbalè, devido a ligação de Sàngó Baru, conhecido como Kamuka,
com o Igbalè.


Baru - Na África o culto a este Aláààfin esta cercado de tabus, pois durante seu reinado cometeu muitas atrocidades, motivo pelo qual os africanos não o raspam nem assentam. Não fazia prisioneiros, matava todos, incendiou seu reinado e possuía um temperamento incontrolável, e conhecido como o Sàngó Baru (dono do buraco, um quadrado no chão  como Igbalè), justo por ter sumido num buraco na terra. Esta ligado diretamente a Eégún e ancestrais, conhecido na cultura Afrosul como Kamuka, conforme reza a mitologia afro-brasileira na diáspora Afrosul.

O culto a Kamuka, o Aláààfin Baru, e consequentemente com Eégún, na nação Kanbina, é tão grande, que durante o Arissum e ou Missa dos Eégún (ritual anual que homenageia os Eégún), a prioridade dos sacrifícios são para Kamuka e os ancestrais, no Igbalè.

Sendo ele o Rei da Nação, ele recebe animais tanto nos rituais de iniciações quanto nos rituais para Eégún. E durante o Arissum, e/ou, a chamada missa dos Eégún, onde formam uma roda e dançam louvando os ancestrais e algumas divindades ligadas a Eégún, nesta ocasião, Sango é uma das primeiras divindades que se manifesta durante o ritual, podendo ser acompanhado por uma Oyá, Xapanã ou demais divindades.

O Igbalè (local sagrado para os Eégún, ritual feito no solo), geralmente se localiza nos fundos dos templos. Neste local são feitos sacrifícios e serviços pertinentes aos Eégún e ancestrais daquele templo, e isto e muito semelhante ao narrado anteriormente por Jonhson, quando diz que na iniciação do grande Aláààfin, em África, sacrificavam seres humanos, para que Eégún protegesse o palácio e o reinado do novo Rei, costume hoje abolido.

Fisicamente, Kamuka tem um assentamento próprio, uma casinha, do lado de fora do templo, estando ligado as funções do Arissum. Esta “casinha de Kamuka”, construção  individualizada e própria do Aláààfin da nação Kanbina, talvez seja a sobrevivência do kòbì, de que fala Jonhson, a qual é a construção estendida no palácio do Aláààfin, em África. Segundo a diáspora afro-gaucha, o Orin de Kamuka e tão sagrado que evitam canta-lo, mesmo quando estão ensaiando cantigas e ou aprendendo toques. Ao cantar o Orin deste Aláààfin num dia de festa, todos os presentes que pertencem a raiz Kanbina se abaixam colocando a cabeça no chão em respeito a esta divindade.

Caso haja alguma divindade em terra, primeiro ela vai ate a porta para saudar a rua, ou melhor, para saudar o Kobí e depois volta para saudar o quarto de santo, o tambor, e por fim fica no meio da roda, de cabeça baixa, ate terminar o Orin.
Todas as casas de nação Kanbina terão, no interior do templo, um assentamento comum, conhecido como segurança de Kamuká, feita no solo, exatamente no meio do salão, que consiste em um buraco quadrado de alguns centímetros, preparado com algumas comidas sagradas e utensílios religiosos. Esta segurança será coberta por uma pedra quadrada branca, chamada de segurança do Kamuká, e que cria um elo de união entre os ancestrais e os Òrìsà.

Outra função da segurança para Kamuka dentro dos templos, e que, sobre ela também  sejam quebradas as loucas dos assentamentos do Lailèmí (morto), no ritual do Arissum, podendo neste local os sacerdotes executarem sacrifícios e tirar os Ebo pertinentes ao Arissum, onde poderão ate velar o Lailèmí dentro do barracão, sobre a segurança do Kamuka. Entretanto, neste caso, não será possível haver qualquer cerimônia para Òrìsà durante o Arissum, e não será permitida qualquer iniciação e ou ritual referente a Òrìsà.

A iniciação para Kamuka e considerada pelos sacerdotes da Kanbina, um tabu. Não é costume nesta nação iniciar um lǵùn para ele, e antigamente, não víamos nem uma feitura sendo feita para o Kamuka.

Quanto a iniciação de Òrìsà em uma casa de Kanbina, seja ela com aves e ou animais de quatro patas, precedera-se com um corte para Bará (Òrìsà Èsù). A seguir, sacrifica-se para as divindades que fazem parte do iniciado.
Nesta ocasião, a Kanbina usa o procedimento de evocar a segurança e proteção de Kamuka, para que, se por ventura venha a falecer um membro da casa durante as obrigações de iniciação, estas não fiquem prejudicadas, como ocorre com as outras nações, e as obrigações não precisem ser despachadas.

Assim, a decorrente obrigação para o orixá pode continuar, dentro do templo, sem que nada se perca, enquanto o Arissum pode ser realizado em paralelo, mas separado, dentro do perímetro do templo, do lado de fora.

No entanto, para que esta segurança ocorra, oferendas adicionais deverão ser feitas a Sàngó Baru, no Yara'bo (quarto-de-santo) e no Igbalè.
No Yara'bo, deverão ser oferecidos os mesmos tipos de animais aos quais foram oferecidos na iniciação. Se o sacrifício for feito com aves, basta oferecer uma ave, se forem bichos de quatro pés, basta oferecer um carneiro, que nada se perdera daquela obrigação, mesmo que venha a falecer um membro da família, o que, em outras nações, faria com que toda a obrigação fosse despachada.
As oferendas que são feitas no Igbalè, serão entregues apenas para Kamuka, que e conhecido como o Sàngó do buraco (isà), pois come junto com Eégún, no Igbalè, onde as oferendas serão feitas para os ancestrais da Kanbina. Homem ou mulher, são cultuados no coletivo como Eégún.

Porém, atualmente, sabemos de vários Elégùn feitos para esta divindade na Kanbina, inclusive manifestando-se.

Segundo um mito da diáspora religiosa afrodescendente, afirmam que nem mesmo na África costumam iniciar Elégùn para esta divindade, fato ao quais os relatos do seu reinado e feitos, que não foram positivos.


A Entronação do Aláààfin e sua conservação: a nação Kambina no Batuque Nago do R.S. - Erick Wolff

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