terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Significado de cada banho na Religião Africana

 Amaci – Omíeró – Omíesé


AMACI = (“amáã”= hábito, costume; “si”= pôr para dentro) = Líquido (ariorò) preparado com folhas sagradas, maceradas no pilão ou com as mão, depois adicionando a água da quartinha do qual, Orixá estamos preparando o amaci, deixando repousar e clareando com velas brancas junto com o “mace”= (bagaço) durante sete dias o “Peji”.

Após, ter passado o tempo de cura é coado e dividido em três partes:

1)   É destinado a banhar a cabeça do iniciado = amaci ni ori = ni= em, sobre; ori= cabeça.
2)   Para banhar o Otá, ocutá e utensílios.
3)   Para banhar as patas e chifres dos animais a serem sacrificados, bem como, as patas das aves.

O grande segredo “Eró” está na composição do “amaci”.

As folhas são as do “Orixá Oló Ilê ”(Orixá, dono da casa) + as do Orixá da pessoa iniciada + as de Osanha (o deus das folhas).

Este é o banho que chamamos de purificatório na cabeça do iniciante na “Religião Afro-Brasileira. Quero ressaltar que antes de realizar o amaci, o iniciado deverá fazer todos os banhos de limpeza corporal, como o banho de descarrego ou de àgbo, bem como, a limpeza com ave ou carne.

Uma observação muito importante, “nunca devemos cozinhar as ervas do amaci”.

As ervas (folhas) deverão ser colhidas ao clarear do dia, pedindo sempre licença (agô) ao Orixá Osanha; logo após, escolhidas e lavadas uma por uma, ao qual Orixá serão empregadas, desta forma presume-se que não existe amaci coletivo.

A pessoa ou Feitor (a) que irá realizar este ritual, deverá antes fazer seu banho normal e colocar roupa branca, para depois serem maceradas as ervas no “Peji”. As mãos de quem faz o amaci devem ser bem lavadas e desinfetadas, ou seja, limpas.

Atenção: O ritual de preparar o amaci para outrem é pôr já a mão na cabeça de outro. E para pôr a mão na cabeça de alguém é só o Feitor (a) e é preciso ter Axé e Fundamento, e muita licença. Porque, em caso de erro, irá repercutir no andamento da “Obrigação” e na vida religiosa da pessoa (iniciante).

Cuidado e cautela, porque, o menor erro no amaci poderá produzir distúrbios mentais perigosíssimos, etc…

Não errem para que depois não venham outras pessoas, mesmo de religião, dizer que você errou, ou outros, dizer que o africanismo é uma fábrica de loucos e de pessoas frustradas.

Tem que se ter muita cautela e humildade, pois trata-se do primeiro ritual que a pessoa irá fazer na Religião, e a mesma, deposita muita fé e confiança no Feitor (a).

A cerimônia do ritual do amaci é colocado com uma jarra ou quartinha (exclusivamente para este afim) lentamente na cabeça do iniciante, e com a mão do Feitor (a) vai aplicando o amaci e solicitando tudo de bom para o novo filho do Ilê e também chamando pelo Olóri Orixá da pessoa; a baixo da cabeça do iniciante, fica uma bacia, para que o preparado não caia no chão.

Assim, esta pronto, com a cabeça lavada, preparado para iniciar a parte grande da obrigação que é o recebimento do axorô no iniciante, não cabe aqui pormenores, eis que todos que são de NAÇÃO tem conhecimento da sequencia ritualística.     

O iniciante fica recolhido ao Ilê no prazo determinado pelo Feitor (a); depois o iniciado deve evitar, também, pelo prazo determinado pelo Feitor (a) ter relações sexuais, raios solares, sereno e chuva na cabeça, etc...



OMÍERÓ”= (Omí = água; eró = segredo; água do segredo). Tem muitos chamam de “Mieró”= (Mi= neste sentido é mexer de leve; eró= segredo; mexer de leve o segredo).

Deixo que vocês escolham e vejam qual é o mais correto! Existem várias maneiras de se realizar o “omíeró” e sua utilização.

Sendo o seu ritual inicial igual ao do amaci. No preparo, existe as diferenças de um para o outro.

“Omíeró” é o cozimento de folhas, após ter fervido a água é colocado as folhas e abafado na panela até esfriar, serve para banhos ou lavar a cabeça em casos especiais, bem como, lavar as residências ou estabelecimentos comerciais.

A lavagem da cabeça com “omíeró”, não importa em compromissos de iniciação e pode e é, muitas vezes, aplicadas aos profanos por motivos de doenças ou outras causas.

Omíeró, não é feito sempre de igual modo, dependendo do fim e da divindade invocada aquém se pede ou se oferece o cerimonial.

Passo à vocês, aqui um dos mais completos: Compõe-se de: “manjericão, alevante, imbiri, parreira, amora, malva cheirosa, folhas de inhame e folhas de fortuna ou saião”.

Depois de realizado a operação deve ser despachado em lugar determinado pelo Feitor (a), geralmente no verde.

Uma prática muito utilizada é na lavagem de cabeça como limpeza da mesma, para tirar a mão de um Feitor (a) ou de mão de egun, etc… Por isso, que chamamos d’água do segredo, já nestes casos as folhas à ser utilizadas são outras !

Esse tipo de ritual assemelha-se muito com o “amaci”, devido sua grande versatilidade de utilização mas, tem muita gente que confundem um com outro, cuidado!



OMÍÀSE” ou que muitos dizem OMÍESÉ = Omíàse quer dizer “água da força divina dos Orixás. Muitos dizem: “Omíàse eró Bàbá Ilê”.

É um certo tipo de “omíeró”, após ser feito é adicionado as águas das quartinhas dos Orixás ou pode ser de um só Orixá, conforme for o caso; também para banhos ou lavagens e purificação de okutás e utensílios de Orixás.

É tão empregado quanto o sabão da Costa, cuja sua composição é conservada secreta, tal como a do Ori epô (manteiga de Oxalá) os verdadeiros, até hoje, são importados da África.

Os que existem por aí! São na sua maioria falsificados, inclusive na Bahia.

Assim o “Omíàse, também é algo de muito secreto do Feitor (a), porque vária muito na sua composição de Orixá para Orixá; mesmo após o sacrifício de animais de quatro pés, na limpeza de seus Otás ou Etás e, após dar o ossé, epô para quem é do epô, mel para quem é do mel ou dar à determinados Orixás que são do epô e mel.



OS BANHOS DE DESCARGAS OU QUEBRA

Em qualquer “Ritual” na “Religião de origem Africana”, não é realizado nada sem primeiro fazer o banho de descarrego ou de quebra, seja qual for a necessidade, é o primeiro passo para conseguirmos nossos objetivos, quer seja em trabalhos ou na feitura de uma pessoa na Religião Africana.

Antigamente, era normal se realizar em primeiro lugar os banhos de descarrego ou de quebra à uma pessoa; hoje, nem todos fazem esse “Rito”, dizem que é perca de tempo, passam uns pacotes e deu !

A princípio, irei dar um exemplo da importância dos banhos de descarrego ou de quebra: - Você é convidado para ir uma festa, primeiro você toma um banho normal de rotina, para depois vestir a roupa nova, certo! Você não coloca a roupa nova em corpo sujo, correto! Está aí! Porque, na Religião Africana, em primeiro lugar se realiza os banhos de descarrego, primeiro se limpa, para depois se realizar qualquer trabalho ou feitura.

O banho de descarga mais usado é feito com ervas positivas, variando de acordo com os fluídos negativos que a pessoa está carregando e de acordo com o Orixá que a pessoa traz no seu “Ori”(cabeça), ou seja, o seu “Olóri”.O banho de descarga com ervas deve ser tomado após o banho de rotina e antes de dormir e, de preferência utilizar sabão da Costa antes, para a limpeza do corpo, após isso, então toma-se o banho de ervas, isto na vida normal e para qualquer realização ritualística.

O banho não deve ser jogado brutalmente no corpo, devemos utilizar uma esponja nova e ir massageando de cima dos ombros para baixo. De modo geral, o banho é feito do pescoço para baixo até os pés, sem tocar na cabeça.A finalidade dos banhos descarrego é:

“O banho de ervas é a renovação do “corpo” e da “alma”, pois quando o corpo se sente bem e se acha refeito do cansaço, etc…, a alma fica também mais apta a vibrar harmoniosamente”.

Exemplo:

Moisés, o grande legislador hebreu, impôs o uso do banho de ervas aos seus seguidores.

Na Índia, há o banho sagrado no “Ganges”.

Em Roma o banho de ervas era um exercício alegre e dedicado aos deuses, principalmente à “Dionísio e Baco”.

Na África, a água é tida de grande poder, força e de magia.

Vemos até hoje as águas de Oxalá, no ritual.

As águas das quartinhas e tigelas nos Pejís, além de outras magias com água.



BANHO DE ÀGBO
CONCEITO:


Água das quartinhas dos Orixás ou de um determinado Orixá, contendo ervas sagradas maceradas (Ariorò = líquido; Mace = resíduos das folhas) e de sangue de aves. Serve para banhos purificatórios tanto para “ààbò” (proteção) => (infusão de mistura de folhas para fins medicinais) e também como de descarrego.

Apesar, de ser rito um de alto custo, mas com grande utilidade ritualística, às quais iremos citar algumas no decorrer deste. O resultado obtido na aplicação do “Àgbo”, é excelente, até substituindo muitas vezes uma troca, etc…


PREPARO DO ÀGBO:

Este preparo consiste numa alquimia (mistura mágica) de “amaci” e com a finalidade do “omíeró”.

O “àgbo”, inicialmente, é feito da mesma forma que o “amaci”; não esquecendo, que o “amaci” é um banho preparado exclusivamente para a lavagem da cabeça, feitura do iniciante; já “omíeró” tem outras finalidades, seria um àgbo sem sangue de animais. Muito usado no ritual de limpezas de objetos, okutás para transformação em otás ou etás, considerados sagrados e mágicos.

O banho de descarrego; descarga ou de quebra, tem como finalidade livrar o individuo (clientes antes de qualquer trabalho, pré-iniciantes de qualquer feitura na “Religião”, bem como, quando uma pessoa sai de uma casa e vai para outra casa de religião, tirar mão de Egun, etc…) de fluídos negativos.

Já o outro banho de “Àgbo” para levantar e atrair as boas vibrações magnéticas almejadas, é composto com outros tipos de ervas sagradas e normalmente é realizado com um casal de pombos brancos ou um casal de “atum => angolista”.

O banho de àgbo é composto de “ervas sagradas” com grande poder mágico, são de várias qualidades tanto para se realizar a quebra como levantar uma pessoa de doenças, situações financeiras problemáticas, situações amorosas, etc…

Depois de realizar o sacrifício do animal ou ave (s) indicada pelos os Orixás; após o corte, a ave irá para cozinha para ser preparada e seus esés (inhálas ou inhélas) também.

No àgbo, deve-se ascender velas de Bará à Oxalá, em volta da bacia onde está depositado o ariorò, para este ganhar forças e clareando o mesmo, as velas devem ser todas de sete dias brancas, só quando queimarem totalmente é que o banho de àgbo poderá ser usado pelo necessitado.

Este banho deve ser tomado em frente aos Orixás e, em determinados casos da cabeça aos pés e, a pessoa que recebe o banho não pode se secar. Em outros casos, o banho deve ser realizado em um riacho de águas limpa, com a pessoa dentro d’água.

Como diziam os “Negros Velhos” da Zona Sul do Estado - RS. O banho àgbo é como nem “tiro dado, jacu deitado” (ditado do Pampa Gaúcho).

É verdade, hoje, as pessoas já não sabem distinguir a diferença e a utilização dos banhos, e sua grande importância e influência que as ervas possui em nossa vida e no “Ritual Religioso”.

É como diziam os “Velhos”: O amaci é o primeiro batismo! Osanha, com o poder de suas ervas, antecede ao Bará no “Ritual”.

Mas, hoje, por muitos é ignorado, só interessa o lado financeiro, esquecendo a pré-preparação para qualquer iniciação.

Axé a todos.

Um comentário:

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