sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sacrificio de Animais

Sacrifício de Animais

“1 Depois disse Deus a Moisés: Subi ao Senhor, tu e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel, e adorai de longe.
2 Só Moisés se chegará ao Senhor; os, outros não se chegarão; nem o povo subirá com ele.
3 Veio, pois, Moisés e relatou ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; então todo o povo respondeu a uma voz: Tudo o que o Senhor tem falado faremos.
4 Então Moisés escreveu todas as palavras do Senhor e, tendo-se levantado de manhã cedo, edificou um altar ao pé do monte, e doze colunas, segundo as doze tribos de Israel,
5 e enviou certos mancebos dos filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos, e sacrificaram ao Senhor sacrifícios pacíficos, de bois.
6 E Moisés tomou a metade do sangue, e a pôs em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar.
7 Também tomou o livro do pacto e o leu perante o povo; e o povo disse: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos.
8 Então tomou Moisés aquele sangue, e espargiu-o sobre o povo e disse: Eis aqui o sangue do pacto que o Senhor tem feito convosco no tocante a todas estas coisas.”
Êxodo 24.1-8

Moisés pegou a metade do sangue e espargiu sobre o altar (versículo 6) e a outra metade colocou em bacias.
A aliança foi formalmente confirmada quando o sangue foi espargido sobre a nação de Israel (versículo 8).


“Obedecendo à Palavra de Deus, Abraão mudou as suas tendas e foi habitar nos carvalhais de Manre, junto a Hebrom e ali levantou um altar ao Senhor (Gênesis 13.18). Tão importante era este lugar que Abraão construiu um altar ao Senhor ali e ofereceu sacrifícios. (...)”

“Ao pedir Abraão um sinal de como tomaria posse de Canaã, o Senhor respondeu: “Toma-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três anos, uma rola e um pombinho. Ele tomando todos estes animais, partiu-os pelo meio e lhes pôs em ordem as metades, umas defronte das outras; e não partiu as aves (...) e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços. (...) (Genesis 15.9-18). (...)”


Naqueles tempos, o pacto entre duas pessoas era selado da seguinte maneira: sacrificava-se um determinado animal, sendo este dividido em duas partes. Colocava-se as partes uma defronte da outra, de forma a deixar um caminho para se passar. Cada banda do animal representava uma das partes na aliança. Em seguida, as duas pessoas passavam por entre as bandas do animal. Ao fazê-lo, cada uma afirmava, diante da outra, que se não cumprisse a sua palavra naquela aliança, a outra pessoa teria o direito de fazer com ela o mesmo feito ao animal.”

Assim, tem-se que a passagem do versículo 8 de êxodo 24, é a confirmação formal da aliança da nação de Israel com Deus, ou seja, quando o sangue foi espargido sobre as pessoas que ali estavam.

Especificamente nesta passagem encontramos a realização do pacto com Deus e de certa forma lembra em muito a iniciação na religião africana, quando o iniciado faz sua aliança com seu Orixá.

É interessante observar que o sacrifício de animais ocorreu em quase todas as religiões do mundo. Na Europa, na África, na Ásia até as Américas, cada cultura teve a prática deste evento.

A maioria dos sacrifícios foram realizados para apaziguar divindades descontentes, para assegurar prosperidade e até para prever o futuro. No culto romano, os animais foram sacrificados e suas entranhas interpretadas pelos sacerdotes. O tamanho a forma e marcações do fígado e da vesícula biliar eram observados; se alguma coisa apresentava problemas ou a interpretação não era favorável, um novo animal seria abatido.

Quase todas as culturas têm mostrado sinais de prática de sacrifícios incluindo os Hebreus, os Astecas e os Hindus. Os romanos e os gregos contavam com este ato em certos eventos, onde sacerdotes realizavam os rituais envolvendo sacrifícios de bodes e muitas vezes até de um touro.

O primeiro sacrifício da história da humanidade se vê quando depois do pecado original Deus proveu peles de animais para cobrir a vergonha de Adão e Eva. O sangue foi derramado para cobrir seu pecado. Os aventais que eles próprios fizeram de folhas não lhes tirou a nudez e a vergonha, nem encobriu o pecado. Só o sacrifício foi suficiente para resolver a situação. O sacrifício de animais aparece novamente quando os dois filhos de Adão trouxeram oferendas a Deus, brigando depois, pois Deus aceitou apenas o sacrifício de Abel que ofertou o melhor de seu gado, e não aceitou o de Caim que deu apenas os restos de seus frutos; mais tarde, também Noé ofertou os animais e aves permitidos logo após o dilúvio.

Depois de deixar a Mesopotâmia, Abraão foi chamado para sacrificar o seu único filho; no último momento, Deus providenciou um carneiro para ser sacrificado no lugar de Isaac. Foi através do sacrifício de um animal que a aliança de Deus com Abraão foi cumprida.

Nas religiões de origem africana, ainda hoje, a prática do sacrifício se faz presente. Os animais são sagrados, como na bíblia antiga, como oferenda aos deuses e ancestrais, na cura, na iniciação e em outras diversas cerimônias que fazem partes dos rituais da cultura originária africana. Além disso, ao contrario do que se pensa, os animais embora importantes, não são o foco central da maioria das cerimônias. Eles são apenas ofertas consagradas e sua carne serve para as refeições comunais para os iniciados compartilharem com os Orixás, antepassados, familiares, convidados e os pobres.

Toda carne dos animais sacrificados serve como alimento, cujo preparo envolve uma série de práticas rituais essenciais para busca de boas energias, proteção etc.

A religião africana tem um dos rituais mais antigos do mundo, onde os ritos sagrados do sacrifício de origem ainda existem, usando esta força transformadora para aproximar as divindades em busca da solução dos problemas cotidianos que envolvem os indivíduos e a comunidade.

O sangue possui vida e uma energia elementar indispensável em um ritual de iniciação. As vísceras dos animais tem objetivo de produzir o axé, a força, energia vital que faz parte da essência desta cultura. Até mesmo o couro serve para confecção dos tambores e atabaques utilizados nas diversas cerimônias dos terreiros de origem africana.

Muitas vezes o sacrifício de animais nos rituais é mal vista, talvez devido à má impressão visual que causam, associando esta pratica à feitiçaria, no entanto estas pessoas ignoram a crueldade envolvida no sacrifício de animais abatidos para consumo, seja qual for o método usado. O que dizer do peixe, animal que agoniza por horas até a morte, e mesmo assim faz parte do cardápio da maioria dos críticos do sacrifício religioso.

Quem conhece os preceitos e os fundamentos da religião africana sabe que muitas vezes o sacrifício de um animal às divindades nos livra do sangue derramado pelas ruas, dos acidentes, das doenças, da má sorte, em fim a troca de energia nestes casos acaba por dar proteção em todos os sentidos, às comunidades inteiras participantes ou não do culto dos Orixás.

Um sacerdote ao fazer o sacrifício, pede a interferência positiva dos orixás a todos que fazem parte daquela comunidade religiosa, e de maneira geral à todos os necessitados de ajuda. Muitas curas se têm no dia a dia através do sacrifício, onde uma ave é entregue no lugar da pessoa e ela fica curada. Pessoas desenganadas pelos médicos encontram a cura dentro das casas de religião e vivem por muitos anos com saúde.

No contexto atual o abate ritual se mantém dominante nas culturas africanas em todo mundo. Tornou-se uma identidade cultural. A comunidade africana tem uma cultura profundamente enraizada e definida pelo seu reconhecimento no mundo espiritual. O derramamento de sangue é visto como a oferta de uma vida para outra, como a vida é entendida como contida no sangue.

Quando um animal é oferecido para o sacrifício, esta prática é feita por pessoas experientes, um ancião, um sacerdote ou sacerdotisa que representa a comunidade religiosa, e com preparo suficiente com a finalidade de cumprir os preceitos exigidos dentro do culto aos Orixás. Isto significa que o animal foi tratado com a sensibilidade possível, nas circunstancias fatais.

Na religião afro-brasileira um animal é abatido apenas para reais celebrações às divindades, e a carne consumida pelos participantes, o que deve ser visto com a mesma naturalidade de quando um fazendeiro ao receber um honrado convidado, imediatamente ordena que seja sacrificado o melhor entre os animais e o serve em banquete ao visitante. A diferença é que o sangue deste animal foi jogado fora enquanto que o abatido na casa de religião faz parte de uma oferta ao Orixá. Estes abates são considerados como parte da identificação cultural e faz parte da defesa moral da prática tradicional por razões culturais e devem ser respeitadas.

A própria Constituição do Brasil, de 1988, diz no seu artigo 5º, inciso VI que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.”.

Axé a todos.

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