Os Orixás são os deuses africanos cultuados no candomblé e no batuque especificamente no Rio Grande do Sul. Alguns são seres primordiais, outros são vistos como ancestrais divinizados dos clãs africanos. Eles estão longe de se parecerem com os santos católicos que um sincretismo arcaico insiste em manter. Ao contrário, eles revelam características humanas, como emoções, vontades e tendências diversas, que os aproximam bastante das pessoas que os têm como patronos.
Cada traço da personalidade é associado a um elemento da natureza e de sua cultura. O Axé das forças da natureza é parte do Orixá, porque o seu culto é exatamente dirigido a esses poderes: nascimento, vida e morte, saúde, doenças, chuva, orvalho, mata, rio etc. Representam os quatro grandes elementos: fogo, ar, terra e água, e os três estados físicos dos corpos: sólido, líquido e gasoso. Representam ainda os três reinos: mineral, vegetal e animal, além dos princípios masculino e feminino, também presentes em sua representatividade. Tudo isso revela o poder vital, a energia, a grande força de todas as coisas existentes, que é denominada de AXÉ.
Cada Orixá possui seu sistema simbólico: cores, cantigas, danças, rezas, comidas e proibições.
Possessão pelo Orixá
Dentro da liturgia do candomblé e batuque, existem alguns homens e mulheres que se transformam possuídos pelos Orixás durante os rituais.
Essa possessão é bastante notável durante as festas públicas nas casas de religião, quando se exibem os toques, as danças e as cantigas rituais para que as divindades se manifestam diretamente na pessoa incorporada.
Nessas ocasiões, as pessoas cantam, dançam de maneira diferente, expressam-se verbalmente, trazem e distribuem sues axés e os fiéis recebem suas mensagens como vindas daquele Orixá que agora está personificado no "médium".
Mas, para receber ou ter esta capacidade de incorporar o Orixá, essas pessoas têm de passar por certos rituais de purificação e iniciação para, aí sim, cumpridos os rituais, terem o privilégio de serem consideradas especiais, não importando o sexo, a idade, ou o tempo de iniciação. Pois uma pessoa que possuir capacidade de incorporar o Orixá é vista como um escolhido e não existe honraria maior para um adepto do culto do que a capacidade de incorporar um Orixá, emprestando o seu Orí àti ara (sua cabeça e corpo) para tornar-se um meio de comunicação direta do Orixá com os demais fiéis do culto.
No Batuque, assim como em outras religiões afro-brasileiras, aquele filho que é Cavalo-de-Santo, será possuído somente por seu Orixá de cabeça pelo resto de sua vida, quando o filho está incorporado, apresenta as características de seu Orixá, perdendo a consciência de seus atos, não sabe o que diz, nem o que o que faz, pois tudo passa a ser obra de seu Orixá.
O Orixá novo (considerado pelo tempo em que se manifesta na terra, até mais ou menos 10 a 15 anos), não possui o direito de falar, só terá o mesmo quando por decisão do Pai de Santo ou solicitação do próprio Orixá, a passar por um ritual fechado, que lhe dará o direito da fala. Em hipótese alguma poderá ser comentada a possessão com o Cavalo-de-Santo, este é um dogma do Batuque, o filho jamais poderá saber que se "ocupa" (termo usado quando o Orixá se manifesta).
Quando o Orixá deseja subir, é feito um ritual rápido para que ele seja despachado, devendo o Orixá ficar em "axêro". O "axêro" e o meio termo entre o estado Orixá e o estado consciência humana, neste momento o Orixá começa a fazer com que o filho volte ao seu estado normal, sem comprometer sua consciência, neste período o Cavalo-de-Santo age sob manifestação ainda do Orixá, como criança, falando na linguagem "tatibitate", (neste momento todos os Orixás, inclusive os novos possuem o direito de falar), comendo doces, tomando refrigerantes, fazendo brincadeiras e dando pequenas consultas à fiéis.
Não se pode esquecer jamais que nesta fase, ainda existe a presença do Orixá, que está apenas realizando um ritual para que possa subir sem deixar energias com seu filho, portando o respeito deverá ser o mesmo.
Passado o período necessário, o axêro deita no ombro de algum filho de santo próximo e entra em um sono profundo. Ao relaxar o corpo do filho possuído inicia o processo final de liberação. Aquele filho que está fazendo o axêro "dormir" deverá bater palmas ou simplesmente estalar os dedos para que o Cavalo-de-Santo acorde como em um susto, todos disfarçando saem um para cada lado, deixando o Cavalo-de-Santo sozinho.
Axé a todos.
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