A ÁRVORE DA VIDA
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não havia floresta, apenas colinas e planaltos a perder de vista, e um rio que atravessava estas terras desoladas. Perto do rio, onde a terra era branca, vermelha e preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador de todas as coisas.
Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar que criasse uma grande floresta...
- Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos dar uma floresta, povoada por milhares de árvores... - pediu Mbere, com o coração cheio de esperança.
- Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os fortes, por favor, nos dê uma floresta povoada por milhares de animais... - pediu Nkwa, com o coração cheio de sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba, olhando firme para eles, com seus olhos escuros como a noite.
- E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso?
- Nós somos tão pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. - Podíamos nos esconder na sombra das árvores...
- E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa - podíamos escapar dos nossos inimigos gigantes...
- Os gigantes receberam a força, na divisão, mas vou dar algo muito melhor aos pigmeus...
E o Criador ergueu a mão.
- Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês não terem mais frio. E dou os animais que caminham, que pulam, que voam, que nadam, para que jamais a fome entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as árvores, como abrigo e como amigas. Vocês serão os senhores da floresta e, no reino dela, os pigmeus estarão em casa, livres.
Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum boquiabertos, com a impressão de estarem vivendo um sonho. Eles, os menores entre os homens, iam se tornar os reis da floresta!
Ardendo de impaciência e devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar em casa e voltar em seguida, trazendo uma árvore minúscula, que acabara de se formar.
- Esta aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a guardiã da coisa vermelha que esquenta, que cozinha e que ilumina.
E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois pedaços de pau. Depois, plantou a arvorezinha na margem de três cores e foi se sentar, com os braços cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se crescesse muito, não era uma floresta.
- Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos.
- Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra nuvem. Depois de uma árvore, outra árvore...
Os dois pigmeus não perguntaram mais nada. Curvados, com a testa apoiada no chão, rezavam para Khmvum, quando um barulho estranho estranho os fez levantar a cabeça.
Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a crescer com uma velocidade prodigiosa.
Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que seis pigmeus não bastariam para rodeá-lo com os braços. O sol do meio-dia desaparecera por trás da folhagem espessa que já enchia de sombra as duas margens do rio. E a árvore continuava crescendo.
Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do horizonte, Khmvum Vali, aquele que dá a vida, aproximou-se e tocou a árvore com a palma da mão.
Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície um dilúvio de grãos. Mbere e Nkwa caíram de joelhos, maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma nova árvore. Onde antes não havia nada, nascia agora um mundo ao redor deles, uma floresta profunda, que crescia a olhos vistos!
Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes, sacudiu com as mãos o tronco da grande ancestral e as folhas começaram a cair de uma a uma.
Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao nascimento do mundo animal: assim que uma folha tocava o solo, começava a se arrastar, a saltar, a andar ... e ia crescendo e se transformando em serpente, em macaco, em elefante... As que ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros de todo tipo, e as que caíam no rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E toda a vida da floresta nasceu da árvore Tii.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
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