quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Egun II

Todo batuqueiro como nos chamam, conhecem o egun, nosso caso por sermos da Cabinda, é mais estreito pois o cultuamos.
Todos nós batuqueiros seremos um dia.
Egun é ser desencarnado de religião afro ou não.
O termo Egun ou Egum é uma palavra da língua yoruba usada no Batuque que significa alma ou espírito de qualquer pessoa falecida iniciada ou não na nação dos orixás.
Para o povo do culto africano, EGUN, é o ancestral, o ser que cuida e ajuda a propagar a raiz do Ilê (casa) onde ele esteja sendo cultuado e não o zombeteiro, que propaga a desgraça. Sabemos que existem espíritos que vivem em um plano espiritual mais baixo mas com certeza não é esse que nos cultuamos.
Para o povo Yoruba, Egun tem uma missão muito importante para sociedade como um todo, pois ele é quem põem a prova à existência de uma vida após a morte.
Digo de religião afro porque quando se morre a acreditamos na vida pós morte, seremos eguns e se tudo foi bem feito ao longo de nossa vida religiosa, seremos eguns de luz.
Na Bahia chama-se de Egungun: cultuados e festejados na ilha de Itaparica com uma pessoa com feitura pronta para cuidar dos mesmos. Na Bahia há festa para Egunguns. Eles vêm ao mundo para confraternizar com seus irmãos ou filhos de dor. Como foi dito no início, a ilha de Itaparica é bem conhecida, pois lá é feito o culto ao Egungun. Segundo a lenda, não se deixa tocar por eles e por isso o mestre (Ojé – iniciado e pronto) tem sua varinha, chamada Ixan para afastá-los. PS: Apaaraká (Eguns ainda mudos e com roupas simples) e os Babá-Egun (que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos)
A concepção religiosa da morte está contida na própria concepção da vida e ambas não se separam. Ou seja, nossa vida religiosa somente tem significado quando tudo termina e nesse momento se faz um novo começo. Por esse motivo que se deve ter respeito e principalmente se deve conhecer os rituais fúnebres de nossa religião, rito tão importante para o religioso africano pois somente após esse ritual que se dará como terminada a vida religiosa aqui no Ayé (mundo - Terra) e se começará a nova vida no Orun (Mundo espiritual).
O povo do santo “o Batuqueiro”, mistificou por demais esse ser, o “Egun”, causando até mesmo medo nas pessoas. Contudo, esse medo que se estabelece, distância os religiosos do ritual mais importante da religião, o ritual de desligamento do Ayé e a passagem para o Orun. As pessoas que ainda detém o conhecimento dos rituais fúnebres devem passar para seus descendentes religiosos, pois somente assim que fará a proliferação do Axé. Por isso fica o toque da Virginia sobre o Atété (cânticos para Egun), que como vai se aprender se ninguém ensinar. E com isso vai se perdendo a verdadeira essência da religião.
Egun ou Egungun, são espíritos dos mortos ancestrais, tanto pode ser da família, como de antepassados da Religião Africana (espíritos de desencarnados de nossa Gôa religiosa). O culto aos mortos não é de exclusividade do povo africano. Ele faz parte de quase todas as civilizações. São muitas as culturas que fazem ritos parecidos com os praticados por nos (Batuqueiros). Ritos esses, que são praticados com intuito de fazer com que o espírito do desencarnado seja recebido de braços abertos pelo mundo espiritual. Por isso no ritual são servidos inúmeros pratos com as mais diversas comidas, fumos, bebidas e muitas outras coisas que acompanham esse ritual, para que o espírito receba um grande banquete de celebração no Orun (mundo espiritual).

BALÉ
Quando ouvi falar do balé pela primeira vez pensei ver coisas horríveis no mesmo, porém com nove velas tive pedidos atendidos e não vi coisas horríveis.
É usado uma saudação especial para saldar os ancestrais.

Como se tornaram egun de luz?
Bem, todo pronto de Bará à Oxalá quando falece, necessita de um ritual chamado de Arissum (missa).
Deve o morto ser velado com axó e não com roupas comuns. O tambor no cemitério deve rufar, com cânticos de axexê ou rezas para eguns. Alguém deve cuidar do morto para não colocar “bilhetinhos” em sua volta. Seus pertencem são despachados com seus devidos rituais, sem ninguém herdá-los.
No quarto de santo iluminado, santos ou feituras descem das prateleiras e sete dias depois iniciasse o ritual do balé. Será servido o café, chimarrão, chá, arroz com galinha e tudo que a boca come. Os sacos montados com tudo do falecido, serão despachados na praia.
Todo batuqueiro sabe que só se come arroz com galinha somente neste dia.
Cada participante do velório ganha um lenço branco que depois de sacudido em forma de adeus é colocado sobre a pessoa, formando o Alá de Oxalá. O caixão é embalado por pessoas prontas, literalmente prontas, com os cânticos de axexê.
Na Cabinda o santo que chega no arissum fica sem calçados e os participantes não tiram os calçados. Este será o único dia em que um santo subirá inteiro, não ficando em axero.
Ygbalé ou também como é conhecido Balé, é a casa dos mortos. Casa essa que é estabelecida em uma construção dentro do pátio do centro religioso. Local esse que serve como base para os assentamentos, que são chamados de idi-egungun, estes são elementos que individualizam e identificam o Egun ali cultuado. E oojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra é onde são colocadas as oferendas e sacrifícios para o Egun ali assentado.

Mito de Egun

Na cidade de Oyó um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado ‘ihobia’, pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede.
Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo. Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa.
Desesperado, correu ao babalaô que jogou Ifá para ele. O sacerdote disse que ele se acalmasse, e que após o 17º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um bastão (assim é feito o ixã). Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam.
Mas ele também não poderia esquecer-se de antes fazer certos sacrifícios e oferendas. Assim ele o fez; seus filhos apareceram.
Mas eles tinham rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade.
Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos. Desse dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai (ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam feitas as oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão. Seguindo o pacto e as instruções do babalaô, de que sempre que os filhos morressem fosse realizado o ritual após o 17º dia, pais e filhos para sempre se encontraram.
E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas que elas as farão com imenso prazer. Esta lenda é rica em detalhes, nos explica vários ritos e títulos utilizados no culto.

Axé

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