Uma delas, que determina a ligação existente entre Exu e Orunmilá, contida no Odu Ogbehunle, conta que:
"Quando Olodumare e Obatalá estavam começando a criar o ser humano, criaram, antes, a Exu. Tendo visto Exu na casa de Obatalá, Orunmilá demonstrou o desejo de possuir um, mas foi-lhe recomendado que voltasse um mês mais tarde porque tudo o que vira estava ainda em fase experimental. Inconformado, Orunmilá insistiu tanto que Obatalá resolveu atender à sua vontade, orientando-o para que pusesse as mãos sobre a cabeça de Exu e que, voltando para casa, fizesse sexo com sua mulher."
Tudo foi feito de acordo com a orientação de Obatalá e, doze meses depois, Yebìirú, mulher de Orunmilá, deu à luz um filho do sexo masculino e porque Obatalá dissera que a criança seria Alágbára (Senhor do Poder), Orunmilá resolveu chamá-lo de Elégbára.
Logo que seu pai pronunciou seu nome, a criança começou a chorar e a dizer: Iyá, iyá, ng o je eku - (Mãe, mãe, eu quero comer preás).
Ouvindo os apelos de seu filho, a mãe respondeu de imediato: Omo naa jeé! - Filho, come, come! Omo l'okùn, - Um filho é como contas de coral vermelho, Omo ni de - Um filho é como cobre, Omo ni jìngìndìnrìngìn, Um filho é como uma alegria inextinguível, A mu se yì, mù s'òrun - Uma honra apresentável, que nos Ara eni. - nos representará depois da morte.
O relato se estende mostrando como Exu, servido por sua mãe, devorou todos os quadrúpedes, aves e peixes e, não tendo mais nenhum animal sobre a face da terra, engoliu a própria mãe.
Assustado com o ocorrido, Orunmilá consultou o oráculo e lhe foi recomendado fazer um ebó composto de uma espada, um bode e quatorze mil caurís.
Feita a oferenda, Orunmilá aproximou-se de Exu, que não parava de chorar e de gritar. "Bàbá, bàbá, ng ò je ó ó! " (Pai, pai, eu quero comê-lo!) - berrou o menino.
Orunmilá, então, cantou a canção da mãe de Exu e quando este se aproximou para devorá-lo, atacou-o com a espada do ebó.
Exu foi então cortado em duzentos pedaços e cada pedaço transformava-se num novo yanguí, num novo Exu.
A perseguição se estendeu pelos nove oruns e, em cada um deles, Exu era seccionado em duzentas partes e cada uma delas se transformava num novo yanguí.
No último orun, depois de ser novamente retalhado, Exu propôs um pacto a Orunmilá: Cada Yanguí seria uma representação sua e Orunmilá poderia consultá-los e mandá-los executar trabalhos sempre que fosse necessário.
Orunmilá, então, perguntou-lhe por tudo o que havia devorado, inclusive sua mãe, e Exu respondeu: "Òrúnmìlá kí o maa kési oun bí ó bá féé gba gbogbo àwon nkan bi eran ati eye tí òun ó máà ràn án lówó láti gbà padà fún láti owo àwon Omo aràyé”. (Orunmilá deveria chamá-lo se ele queria recuperar a todos e cada um dos animais e das aves que ele tinha comido sobre a terra; ele (Exu) os assistiria para reavê-los das mãos dos seres humanos).
O que a lenda ensina é que Exu é um só subdividido em incontáveis partes e desta forma, todos os seres humanos, animais e vegetais, assim como os próprios orixás possuem os seus Exus individuais.
Exu é o comunicador, o intermediário, o policial, o juiz e o carrasco e, da mesma forma que castiga os malfeitores, premia aqueles que agem corretamente.
Exu é, portanto, a divindade de maior atuação no contexto religioso do candomblé.
Exu resulta da interação Obatalá-Oduduwa e como o primeiro elemento procriado seria a personalização da energia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única.
Ele é o grande transformador, o comunicador, o intermediário entre os homens e as divindades e entre estas e o supremo criador.
O termo "Esu" pode ser traduzido como esfera.
Elegbara é um dos títulos honoríficos de exú que significa: "aquele que possui poder ilimitado", e bara, elegba e legba são sinônimos ou corruptelas desta palavra.
Ambos os termos se referem ao orixá exu, do qual se desconhece a existência de uma manifestação ou de um aspecto feminino.
Exu é sempre masculino e seus símbolos são fálicos.
As estatuetas que o representam possuem sempre um grande pênis em permanente estado de ereção.
Èsú, Elégbára, Elégba ou ainda Légba, seriam os nomes pelos quais é conhecido este poderoso Orixá, o primeiro criado por Obatalá e Oduduwa, tendo Ogun como irmão mais novo.
O culto de Exu é muito individual. Cada indivíduo, assim como cada coisa possui o seu Legba, podendo, portanto, edificar o seu assentamento, onde poderá cultuá-lo e apaziguá-lo.
Por sua importância e atributos, Exu é sempre o primeiro a ser homenageado e cultuado em todos os procedimentos ritualísticos.
Seu caráter é ambíguo e faz o mal ou o bem de acordo com sua própria conveniência.
A atitude do africano diante desta divindade é de profundo respeito devido ao seu poder de atuação sobre a vida e a morte, o sucesso e o fracasso, a riqueza e a miséria, de acordo com as determinações de Olodumare, de quem é o executor de ordens.
Por este motivo, todos os seguidores da religião procuram estar bem com ele, evitando desagradá-lo para não se exporem à sua ira.
Exu possui muitos nomes ou títulos honoríficos.
Dentre estes destacamos:
LOGEMO ORUN: Indulgente filho do céu.
A N'LA KA'LU: Aquele cuja grandiosidade se manifesta em plena praça.
PÁPÁ WÀRÀ: Aquele que apressadamente, faz com que as coisas aconteçam de repente.
A TÚKÁ MA SE SA: O que ele quebra em pequenos pedaços jamais poderá ser reconstituído.
Àse gbogbo.
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