quinta-feira, 5 de abril de 2012

Esu, a pedra primordial na teologia Yorubá. Parte 3

 

DA PEDRA A PEDRA

A ação repressiva dos cristãos europeus e, posteriormente, latino-americanos sobre os africanos, escravos e seus descendentes forjou o sincretismo entre os Orisa e os Santos Católicos.

Consequentemente, Esu e o diabo cristão na sua forma mais primitiva, teologicamente.

Assim sendo, a idéia de um Esu reelaborado pelos cristãos e, essencialmente maléfico e tenebroso, é inconcebível na Teologia e na cosmovisão Yoruba, que não tem um “inferno´” declarado, e os homens não são punidos a post mortem.

Muito embora, existam lendas e mitos populares onde Esu é retratado como manhoso, trapaceiro ou encrenqueiro. Se Esu for reverenciado com o Ebo designado nada disso será verdadeiro e a sua suposta imagem de malignidade, decorrente dessas lendas, cairá por terra.

Na verdade, Esu é o Executor Divino, punindo aqueles que descumprem o sacrifício prescrito, recompensando aqueles que o fazem.

Ele nada faz por conta própria. Está sempre servindo de elemento de ligação entre OLORUN e Orunmila ou então servindo aos Orisa.

Segundo a Teologia Yoruba, nenhum ser divino pode punir um Ara aiye "ser da terra", diretamente, sem a consulta a Olodunmarê.

Diversos Itan Ifa nos dão conta que Esu também é encarregado por OLORUN para vigiar os Orisa no Aiye. Isso só pode ser feito porque ele é imparcial no seu papel de Executor Divino.

É por isso que todos os devotos de todos os Orisa sacrificam para Esu, por recomendação de Ifa, nos tempos de dificuldades, buscando dessa forma sua intermediação com Olodunmarê.

E, para que os Babalawo não se excedam ou mintam na prescrição dos ébó, o próprio Esu na qualidade de Odusó sempre estará presente no jogo, cuidando para que o Iwa "caráter" do consulente e do Babalawo não sejam maculados.

Esu reporta-se diretamente a OLORUN e mantém um inter-relacionamento com os Orisa e com os Egungun "ancestrais".

Ele não é vingativo e nada executa por sua própria conta, apenas cumpre fielmente as ordens de OLORUN, conforme os ditames do Iwa contido no Ori individual, destino escolhido por cada Ori no Ipori Orun `Lugar em que o ser humano é preparado.

É necessário, o mais depressa possível, esquecer, "desumbandizar" e "deskardekizar" as religiões de matriz africanas, pois não se pode viver com o paradigma de bem e mal, inexistente nessas religiões.

Em síntese, transmutar, teologicamente, a pedra primordial em pedra angular sobre a qual se sustenta a cosmografia tradicional Yoruba.

Àse gbogbo.

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